“Quero colocar meu vilarejo no mapa”. Essa é a ambiciosa meta que o estilista piauiense Sávio Drew traçou para sua marca, a Obi (azul, em tupi-guarani). As principais referências de seu trabalho vêm de uma pequena vila no interior do Piauí, Anhuma, composta por apenas 15 pessoas, todos parentes de Sávio – o sobrenome, Drew, é artístico e vem dos tempos de escola, porque já chamava atenção por desenhar bem. 

Seu objetivo é transformar referências regionais em peças atemporais e com o propósito de comunicar ao mundo o que temos de melhor. Sustentabilidade é um pilar da Obi e Sávio faz questão de mostrar que o pilar é bem sedimentado: toda sua produção faz reaproveitamento de tecidos, muitos deles doações de grandes fábricas. “Quando preciso comprar algo novo, vou na seção dos retalhos”.

Como muitos piauienses, Sávio migrou para Brasília para estudar: por lá terminou o ensino médio e começou a graduação em moda – sua marca nasceu a partir do TCC. Hoje, aos 26 anos, se divide entre Brasil e Espanha, já que conseguiu uma bolsa para fazer mestrado em sustentabilidade na Escola d’Art i Superior de Disseny, em Valência. 

“Quero mostrar a força do Nordeste muito além de estampar um monte de camisas com caju. Não coloco o produto em primeiro lugar, uso a moda para contar uma história. Falo de economia, força feminina, trabalho feito à mão, mostro quem são as pessoas que seguram os pilares desta cultura.” 

Na mais recente coleção, Watu, Sávio conta a história do rio que secou no quintal da casa de sua avó, dona Maria Raimunda, e como as regiões ribeirinhas têm sido afetadas pelas agressões ao ambiente. A denúncia vira poesia nas camisas de linho enfeitadas com lenços com bordados em ponto cruz – reaproveitados –, nas bolsas Pindorama, feitas em palha de carnaúba desenvolvidas pelos artesãos da vila, e nas de crochê Fulia, que trazem a alegria dos festejos do Nordeste e foram criadas em colaboração com a Cuscuz Design, marca de Lisboa que vende a Obi na Europa.

“Meu processo de criação é invertido: primeiro procuro a matéria-prima e depois idealizo a coleção. Em Watu trabalhei o upcycling com camisas de linho dos anos 90, nunca usadas. Reúno os tecidos coletados e vejo as possibilidades de aplicar bordados já existentes, dando uma nova vida. É a minha forma de não criar resíduos.” 

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