Lampião modernizado

A Tsuru nasceu de forma não oficial em 2012. A marca de bolsas e acessórios em couro era o sustento de Lucas Lemos, então estudante de Arquitetura na capital de Sergipe. Nascido e criado em Saúde, povoado ribeirinho do Baixo São Francisco, desde cedo exercitou seus dons manuais com a mãe, uma professora que também era exímia artesã. “Ela fazia crochê, bordava, transformava troncos de cajazeira e jaqueira em pequenas esculturas.”

O pai era agricultor, apaixonado por festas regionais como vaquejada e Pega de Boi, e amava jaquetas, botas e chapéu de couro. “Nunca vivemos com dinheiro de folga, e para justificar porque estava pagando caro naqueles produtos, meu pai sempre repetia: ‘couro é couro’. Foi assim que aprendi o que era luxo”, lembra o designer. Com as habilidades manuais que havia aprendido com a mãe e a paixão pelo couro do pai, começou a fabricar pulseiras e cintos, que vendia para os colegas e em feirinhas de artesanato.

Depois de fazer todos os cursos que podia na internet, Lucas Lemos foi estudar no Senai. “Minha técnica melhorou muito, mas gostava do feito à mão, e o Senai ensinava a reprodução em série.” Em 2014 se sentiu pronto e lançou a Tsuru. “Nessa época, encontrei um pássaro de origami num banco da faculdade, descobri que se chamava Tsuru e que era símbolo de longevidade e fortuna. Achei que era um bom nome para a marca.”

Ao longo dos últimos dez anos, Lucas Lemos vem ressignificando com uma nova roupagem a manufatura do couro legítimo a partir de um olhar sensível. “Pela curiosidade e inquietação, venho descobrindo possibilidades de valorização da cultura da minha gente e do meu lugar”. Graças ao trabalho de modernização de símbolos nordestinos, como as sandálias de Lampião, a Tsuru conquistou clientes fixos como os artistas Vanessa da Matta, Criolo e Chico César.

Além dos acessórios, o designer tem se aventurado na decoração e no mobiliário. O que começou com almofadas para a própria Tsuru – belíssimas, diga-se de passagem! – escalou para uma coleção que foi lançada na CASACOR de Sergipe. “Tenho entendido a força do meu ofício como uma forma de continuidade dos ensinamentos que recebi de minha mãe e avó, duas mulheres negras, empreendedoras e que me ensinaram as práticas manuais”.

Reforçando que o céu é o limite para quem sabe de onde veio e não tem medo de se jogar, Lucas Lemos seguirá testando novos formatos, mas sempre com o couro como suporte. Se Lampião entrasse em uma cápsula do tempo e aterrizasse no Brasil de hoje, ele definitivamente escolheria Tsuru para desbravar a contemporaneidade – e quem não, certo?

As sandálias, carteiras, bolsas e almofadas da Tsuru estão à venda no e-commerce da marca, que envia os itens para todo o Brasil.