Realeza ancestral
Realeza ancestral
Ressignificar os tecidos africanos usados nas cerimônias do candomblé, dando roupagem urbana, pop e contemporânea. Esse foi o insight que motivou a criação da marca soteropolitana Meninos Rei, dos irmãos Céu e Júnior Rocha, que completa sete anos em dezembro próximo. Céu, 39 anos, se formou em moda e trabalhava em loja de roupas. Júnior, 41, acumulava o styling para celebridades como Margareth Menezes com o mesmo emprego do irmão.
A dupla começou fazendo pequenas produções a pedido de amigos sedentos por novidades, que estavam entediados com a mesmice do guarda-roupa masculino. “Nós sempre criamos nossas próprias roupas. Eles viam e pediam para fazermos igual”, lembra Junior. O estímulo final para transformarem o trabalho informal em missão de vida veio da realização de que poderiam criar uma assinatura própria e potente trabalhando com uma matéria-prima que sempre fez parte de suas vidas.
“Escolhemos o tecido africano como base do nosso trabalho por conta de nossa religião e pela força e ancestralidade que carrega. Mas tiramos suas estampas do óbvio e as representamos de uma forma moderna através das modelagens ousadas, sem perder sua riqueza e valor ancestral”, explica Júnior.
A dupla consegue essa proeza através de um sofisticado patchwork que praticamente reconstrói as estampas dos tecidos que trazem de Guiné Bissau, Gana e Angola, num processo rebuscado de recorte e colagem. O resultado são criações afro-urbanas, contemporâneas, com alfaiataria precisa, maximalista, bem distante das formas tradicionais utilizadas nos trajes das religiões de matrizes africana.
“Os tecidos são riquíssimos, mas precisam de muito estudo de modelagem para serem transformados em blazers, tops, macacões. A gente faz a peça piloto, avalia o resultado com as costureiras e modelistas, investiga se o caimento ficou bom. É preciso muita atenção e cuidado para dar certo.”
O insight de 2015 e a coragem de se lançarem no mercado de forma independente renderam frutos. No mês que vem, farão seu segundo desfile no São Paulo Fashion Week, e suas criações já foram usadas por Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Lazaro Ramos e Adriane Galisteu.
Os dois pretendem que as coleções, repletas de referências ancestrais, despertem “uma nova consciência de aceitação e valorização da raça negra”. No primeiro desfile no SPFW, em junho passado, a dupla fez uma reverência a Exu, orixá da comunicação e da linguagem, e a quem pediram a bênção quando se lançaram em carreira solo.
Desta vez, a ideia é trazer para passarela uma síntese da trajetória da marca até aqui. “Nossa história tem muita transformação, movimento. E isso estará refletido nos looks com modelagem mais ampla, falando de rua”, conta Júnior.
A dupla atende clientes com hora marcada no ateliê em Itapoã, mas as peças também podem ser encontradas no recém-lançado e-commerce (meninosrei.com.br) Quem quiser agendar uma visita pode mandar direct através do @meninosrei.
Fotos: Ítalo Soares e Franclin Almeida