Brilhante
Brilhante
Munira em iorubá significa brilhante, reluzente. E é assim que Daniela Munira, 22 anos, quer deixar quem veste suas peças. A marca soteropolitana, fundada em 2019, se inspira na potência de comunidades afro-latinas e em simbologias da cultura e da afetividade negras e tem como missão quebrar estereótipos do que é uma marca afro-baiana.
Produzindo estampas autorais, modelagens inclusivas e se comunicando de forma transparente, a Munira nasceu depois de Dani deixar para trás o curso de Ciências Sociais. Mas não bastava criar uma marca, era preciso que tivesse um propósito e incorporasse todas as pesquisas que havia feito sobre sua família de origem quilombola.
“Já costurava roupas sob medida, mas sentia necessidade de criar algo que tivesse a minha identidade.” O design, para ela, é tão importante quanto o posicionamento político da marca. Isso se reflete, por exemplo, em atitudes como priorizar ter entre seus colaboradores pessoas racializadas.
“Sou filha de professora e neta de costureira, cresci ouvindo e aprendendo sobre política e relações étnico-raciais.” Moda não era assunto nas rodas de conversa da família, mas o trabalho da avó sempre a fascinou. Com a Munira, resgatou os saberes passados pela matriarca, durante a infância e adolescência em Periperi, no subúrbio ferroviário de Salvador.
Dani define a Munira como uma marca autoral, slow fashion e black owned (criada e gerenciada por pessoas negras). “Quero resgatar a autoestima dos pretos brilhantes”, diz. Ela mesma desenha as peças e cria as estampas, mas sempre insere a comunidade local na construção das roupas, campanhas e marketing, dando oportunidade sobretudo a mulheres em situação de vulnerabilidade econômica.
A próxima coleção, que será lançada na primeira quinzena de novembro e foi batizada de Maréa, tem como ponto de partida a Ilha da Maré, ilha quilombola na Baía de Todos os Santos. Artesãos locais colaboraram com a coleção, que trará trabalhos manuais de macramê e renda de bilro, característicos da ilha. Os materiais que usa em geral são biodegradáveis, com tecidos de fibra natural ou reciclados.
Mais que apenas uma coleção, Dani quer que Maréa potencialize a vocação turística da ilha, que possui cinco comunidades em terreno quilombola. Seus moradores vivem da pesca, artesanato e turismo, e a Munira pretende trazer mais visibilidade para a região desenvolvendo atividades de lazer, profissionais e festas locais.