Apesar de assegurado pela Constituição Federal, o direito à moradia não é uma realidade para a uma parcela considerável dos brasileiros. E é essa contradição que guia o trabalho do cearense Diego de Santos, que usa suportes e cenas do cotidiano para falar sobre a transformação da paisagem das cidades.

Prestes a completar 40 anos, nasceu e cresceu no Parque Potira, área rural em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. Acompanhou de camarote, portanto, o crescimento sem estrutura e nem planejamento da comunidade, hoje dominada por facções.

São as cenas da infância e da adolescência, do dia a dia, que o inspiram até hoje. Seu novo projeto é a série “Acabamentos”, que fez sucesso na última SP-Arte, na qual utiliza cerâmicas que pegou de restos de construções da casa da avó e da vizinhança do seu ateliê. Sobre os revestimentos pintou lembranças como o vendedor de caju que batia de porta em porta.

O nome da série é um trocadilho com o “acabamento” de culturas e comunidades. No seu projeto anterior, Diego trabalhou com faixas de ráfia usadas para anúncios de venda e aluguel de casas, apartamentos e lotes. Os retalhos aparecem em telas com pinturas de sobrados típicos do interior, intactos por estarem (ainda) livres da especulação imobiliária.

“Minha pesquisa é contínua, conceitual e política. As faixas são os dispositivos publicitários do mercado imobiliário. Já as cerâmicas são um dos materiais utilizados nas construções que serão erguidas por causa desses anúncios.”

Preto, pobre, LGBT e nordestino, Diego de Santos vem hackeando os espaços há algumas décadas. Em 2004, entrou no curso de Artes Plásticas no prestigiado Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, sem nunca ter pisado em um museu. “Passei na faculdade porque sabia desenhar. Não tinha ideia se seria professor, artista ou se trabalharia num museu.”

Virou artista e, desde 2010, vive integralmente do seu trabalho – hoje é representado pela Galeria Leonardo Leal, a mais importante de Fortaleza, e que o levou como destaque para a SP-Arte deste ano. Sobre a diversidade de artistas nos museus, é categórico: “Ainda falta muito, mas estou otimista”. Nós também!