Colando histórias
Colando histórias
Por muito tempo, a pernambucana radicada em Salvador Heloísa Marques recusou o título de artista. As colagens que aprendeu institivamente na infância, que a fizeram cobrir uma parede e um teto da casa inteiros com recortes de gibis e revistas, eram apenas um processo terapêutico. Foram amigos e o público, atraídos pelas suas postagens nas redes sociais, que lhe fizeram encarar que o hobby deveria se tornar profissão.
Heloísa nasceu em Itapetim, no sertão pernambucano. Mudou-se para Recife para estudar arquitetura e viveu por um ano em Madri, com bolsa do programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal. Formada, trabalhou como designer de produtos e, nas horas vagas, fazia colagens digitais, resgatando a paixão da infância.
Mas foi ao encontrar antigas cartas de amor trocadas pelos pais que Heloísa deu um passo adiante e passou a fazer colagens manuais. “Comecei a fazer os quadros, mas queria um toque analógico e nostálgico. As letras me chamavam atenção. Foi aí que decidir incluir frases nas telas”, conta.
De colagens manuais com ênfase em questões de gênero, até hoje muito populares entre seus seguidores, Marques migrou para as telas têxteis. São bordados que misturam frases, desenhos e pedrarias, inspirados sobretudo pela música e literatura.
O trabalho de outros artistas também são usados como referência por Heloísa na hora de criar as colagens e os bordados. Uma de suas principais obras é justamente uma gola inspirada na famosa manta de Arthur Bispo do Rosário (1911 – 1989).
As telas e os quadros da artista são verdadeiros ecossistemas. Embora desenhos preencham os espaços, é a escrita que norteia o processo criativo. “A palavra é um elemento compositivo muito presente no meu trabalho, até quando ela não está lá. A inspiração começa com texto, uma música, comigo pensando, daí surge a imagem na minha cabeça e executo”.
Seus trabalhos já foram vendidos para Grécia, Estados Unidos, Portugal e Argentina. Barreiras não fazem parte do vocabulário de Heloísa, que passeia por diferentes técnicas e plataformas. Na moda, por exemplo, a pernambucana flerta com os bordados políticos e coloridos de Zuzu Angel e com a tapeçaria de Violeta Parra – em breve, Heloísa irá lançar projetos específicos nessa área.
Em média, é necessário um mês e meio para a conclusão de um trabalho, mas o tempo pode variar de acordo com o tamanho e quantidade de telas. O contato com Heloísa Marques e encomendas devem ser feitos através do @heloisamarques__.