Pinturas autorais estampando vestidos, blusas e quimonos têm sido uma maneira bastante eficaz de uma marca de moda jovem criar sua identidade e conquistar clientela fiel. Com a pernambucana Proa não foi diferente. A marca nasceu da insatisfação das irmãs Camila e Gabriela Lemos com a falta de opções de peças originais em Recife. “Só havia praticamente jeans, já que Caruaru e Toritama são grande polos produtores”. Elas queriam roupas mais leves, fluidas e que conversassem com o clima quente e úmido da cidade.

Nascida em 2017, a Proa se destaca pelas pinturas feitas à mão que se tornam estampas, compondo um guarda-roupa completo de peças leves e oversized. A vegetação tropical, de orquídeas a cactos, são as principais inspirações de Camila, o braço criativo da dupla. Idealizadora das estampas, começou a pintar como hobby. Já Gabriela é a parte responsável pelas operações e logística.

“A Proa não tem muitas referências na arte clássica e europeia. A gente busca inspiração na nossa região, em vivência locais que ativam uma memória afetiva”, diz Camila.

As estampas são divididas em famílias, que contam histórias, como “Terra Amor”, print best-seller que fala sobre o pertencimento de estar na própria terra e o retorno às origens. Já “Revoada” foi criada a partir da música de Geraldinho Lins, “Amor do Sertão”, e traduz as vivências das andanças pelo interior do Estado. A fé inspirara a estampa “Alma Lavada”, que homenageia as rezadeiras, o misticismo e artigos como ervas usadas para espantar espíritos ruins.

O lado artístico da marca, do feito à mão, convive em perfeita harmonia com o tecnológico. Isso porque, mesmo sendo uma empresa relativamente nova, a Proa entendeu que era preciso investir para retorno – tanto financeiro, quando sustentável. Logo no começo da operação, as irmãs digitalizarão todos os moldes e passaram a trabalhar com softwares de encaixe de modelagem.

Conseguiram, assim, reduzir o custo das peças em 20% e a sobra de tecido. A partir da previsibilidade dos softwares, a marca se organiza até para reaproveitar as sobras de tecido. São feitas tote bags, scrunchies e até sacolas de brinde, no melhor estilo “nada se cria, tudo se transforma”.

Foi a tecnologia que possibilitou a Proa cultivar um público para além de Recife, graças ao site. Hoje, a marca tem fãs espalhadas por todo o Brasil, sobretudo entre clientes de São Paulo e Rio que valorizam o consumo local e consciente, trazendo para o debate uma moda/arte que é antídoto às fast fashion e às compras desenfreadas.

No último mês de junho, participou pela segunda vez da Fenearte, a maior feira de artesanato do país. O evento foi a oportunidade perfeita para uma “surra de lançamentos”: novas estampas, como a Oásis e a Arte da Terra, uma homenagem às tradições brasileiras do trabalho com o barro; além de uma camisa que é a primeira peça da marca sem gênero.

Antenada às demandas do público, que vai literalmente do Oiapoque ao Chuí, a etiqueta começou a produzir um conteúdo para as redes onde prova a versatilidade das próprias peças. Põe fim, dessa forma, à ideia de que roupa estampada e fluida é sinônimo de verão. Com as camadas e o styling certo, a Proa encara o frio do Sul do país, levando as cores e a forma de Recife.