“Toda criança cresce desenhando. Eu continuei”. É como essa naturalidade que a baiana Ludmila Lima, 29 anos, explica como se tornou artista – ainda que essa descoberta tenha acontecido tardiamente.

Natural de Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano, Ludmila é engenheira de pesca e foi apenas durante a pandemia que decidiu se dedicar ao estudo da aquarela para virar, então, a primeira artista da família. A habilidade com desenho surgiu na infância, mas Ludmila ainda flertou com pintura em tecido e o graffiti antes de se encontrar nas aquarelas.

Atualmente vivendo em Salvador, ela costuma resgatar as memórias da infância em Cruz das Almas na hora de pintar. E tudo vira inspiração: o cheiro do café no fim de tarde, o vendedor de algodão doce, a avó materna que descascava uma laranja perfeitamente, o quintal de casa cheio de folhas no chão…

Essas lembranças se transformaram na coleção “Raízes de Memórias”, série com 12 aquarelas. A folha de arruda, presente em quase todas, faz referência a seus ancestrais e ao candomblé. Mas é “Mariazinha”, obra que encerra a série, a preferida da artista: uma erê, amiga de Ludimila, e também a única arte com expressões no rosto.

Festas populares do interior da Bahia, como o São João, ou a manifestação do Nego Fugido, também servem de inspiração e representam seu desejo de retratar e fortalecer a cultura afro-brasileira.

Ludimila começou pintando aquarelas em preto e branco e as cores foram chegando aos poucos, de maneira sutil, o que talvez explique sua paleta tão peculiar. Atualmente, ela anda experimentando mesclar aquarela com a técnica acrílica, resultado que pretende mostrar em sua próxima exposição, ainda sem data definida.

No último mês de junho, a baiana inaugurou sua primeira mostra individual, na Casa Cultura Galeno d’Avelírio, que fica em sua terra natal. Em um texto escrito em primeira pessoa, desejou que todos contemplasse as obras encontrassem um pedaço de si nas memórias que eram delas.

“Que possamos reconhecer a beleza das histórias silenciosas que ecoam em nossos espíritos, conectando-nos uns aos outros e à nossa essência mais profunda, pois tudo é um. Esta exposição é um testemunho do meu amor pelo passado e da minha gratidão pela ancestralidade”, escreveu Ludimila.

As linhas, cores e memórias de Ludimila Lima já cruzaram fronteiras e hoje estão espalhadas por casas na Alemanha, Suíça, Itália, França e Estados Unidos. As encomendas podem ser feitas pelo site ou pelo perfil do Instagram @ludimilalimas.