A trajetória da piauiense Aline Guimarães é como uma linha capaz de executar qualquer movimento. Com rara habilidade, ela consegue fazer um elo entre a dança, o grafite, a ilustração e a arte-educação. “É como se tudo isso estivesse ligado em um único fio: ensino o que desenho e desenho o que danço”, conta a artista, que costuma usar o pseudônimo de Línea para assinar suas telas e murais.

Esse emaranhado de aptidões na arte tem origem familiar. Mãe crocheteira, pai músico, irmã desenhista e prima dançarina. Línea descreve seu trabalho como uma contação de histórias que passeia pela sabedoria das pessoas mais velhas e pela curiosidade dos mais novos.

Nas telas ou murais, a prioridade são representações negras. Desenhos que falam sobre ancestralidade, que valorizam a cultura e religiosidade afro, e permitem sonhar com perspectivas de respeito e combate ao racismo.

Também é latente sua preocupação ambiental. Parte de suas telas são tingidas com pigmentação natural. A geotinta, que ela mesmo prepara, leva barro e semente de urucum, que garante o tom avermelhado. “O urucum sempre esteve presente na minha vida. Lembro de meus pais contando como o fruto fazia parte de suas brincadeiras de infância. Minha mãe usava-o  como tempero de suas comidas imaginárias e meu pai pintava o rosto com a semente para lutar”, conta.

Recentemente, Línea assinou a ilustração do livro “Menino do Congo”, da escritora Márcia Evelin, que conta a história dos Congos de Oeiras, dança típica do interior do Piauí. Outras obras com a colaboração da ilustradora, como capas de discos e miolos de livros, estão em processo de desenvolvimento e devem ser lançadas em breve.

A dança também movimenta a vida de Aline, mas não ache que se trata de hobby. Ela dá aulas de balé e dança afro para crianças de 4 a 7 anos. E foi bailando que extrapolou as fronteiras do Piauí – e do Brasil: em 2018, esteve em Portugal a convite do espaço Alkantara, uma associação cultural dedicada às artes performáticas de Lisboa.

Toda essa versatilidade artística fez com que Aline fosse escolhida para compor a Mooc 100, projeto que lista os cem expoentes negros que estão revolucionando o mercado criativo no Brasil. “Meu caminho é a arte, em todas as vertentes que escolhi. Tenho o propósito de levar meu trabalho a muitos lugares e fazer com que ele toque as pessoas de maneira sensível e reflexiva”, diz ela ao contar que se inscreve em diversos festivais nacionais.

Os trabalhos de Aline Guimarães podem ser encomendados direto no Instagram ou pelo site.