Imagine uma cadeira feita de rapadura que pode ser devorada, além de servir de assento. Ou um cobogó feito de conchas de sururu, marisco que é Patrimônio Imaterial de Alagoas. Ou ainda um banco inspirado nas arapucas indígenas de caça, tão comuns no sertão. São pecas que poderiam ser fruto de de Inteligência Artificial, mas que existem de verdade, obra da inventividade e pesquisa do alagoano Rodrigo Ambrosio.

Arquiteto de formação, Ambrosio é um grande pesquisador da cultura, da ecologia e das tradições de seu povo. Por isso, suas peças, além de funcionais no design e originalíssimas no estilo, são registros da história de Alagoas, carregando um pouco da alma e da psiquê locais.

Entusiasta do feito à mão e dos processos experimentais, Ambrosio é hoje responsável pela direção criativa da marca Janete Costa. Conectado à natureza e antropologia, seu trabalho faz parte do acervo permanente do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e consta do livro-referência “A Labour of Love”, que destaca 70 estúdios criativos pelo mundo.

Ambrosio é também mestre em ressignificar materiais: cana de açúcar, palha de ouiricuri, conchas de sururu, cordas náuticas, papel craft, pedra, metal, pneu… tudo isso se transforma em peças de design pelas mãos (e cabeça) do alagoano.

“Estética e funcionalidade são importantes, mas história e identidade também. Minhas peças têm função física e psicológica”, diz. Suas reinterpretações da cultura alagoana bebem na fonte do regionalismo, mas o resultado é universal.

É o caso do cobogó Mundaú, assinado em parceria com Marcelo Rosenbaum, que tem em sua composição 80% de conchas de sururu descartadas – além de cimento. A produção acontece às margens da Lagoa Mundaú, onde fica o estúdio de Ambrosio. Em 2022, a dupla recebeu por esse trabalho o iF Design Award.

Em se tratando de matérias não usuais, nada se compara à cadeira Engenho, feita com 50 kg de rapadura, com a missão era ressignificar a cultura da cana de açúcar. A peça experimental antropofágica foi – literalmente! – comida durante exposição Arte das Alagoas, que aconteceu em 2015 em São Paulo e que projetou além-fronteiras a carreira de Ambrosio.