Cozinha afetiva e tempero de família: não tem outro jeito de definir o trabalho de Cecília Nogueira, a Cil, como é conhecida a neta-cozinheira de Bartyra, uma das seis Irmãs Rocha, maiores nomes da gastronomia alagoana, responsáveis por manter vivos clássicos como a tapioca molhada, o pastel de festa e o bolinho de maisena.

Nascidas entre 1920 e 1933, as seis irmãs foram criadas no antigo Engenho Varrela, em São Miguel dos Campos. Exímias cozinheiras, registraram e divulgaram a gastronomia alagoana através de seus dois livros, “Delicias Alagoanas” e “Doçuras do Mundo Todo”, que já ganharam espaço até no programa de Ana Maria Braga, na TV Globo.

Cil é uma das herdeiras do clã que seguiu na gastronomia, mas diz que não quer “inventar a roda”. Sua meta é buscar os melhores ingredientes para tornar pratos já conhecidos uma experiência inesquecível. Em seu menu, não faltam receitas da mãe – Cecília, também exímia cozinheira –, da avó e das tias avós: Yêda, Jacy, Jacyra, Maria e Moema Rocha.

Além de um café-restaurante na Jatiúca inaugurado há um ano, que leva seu nome, Cil administra uma empresa de congelados e um bufê. “Meu cardápio é muito baseado nos livros delas, que trazem as recitas completas e também a história do prato.” Os preferidos dos clientes são a empada de queijo, o camarão flambado com whisky, o arroz de polvo da Tia Carminha e o peixe de forno da Tia Ana. A vó Yêda é responsável pela sobremesa mais pedida: o bolo de rolo.

Outro hit do restaurante é a tapioca molhada, receita de gerações. “Quem fazia muito esse prato era a vó Moema, e ele traz um sabor que mistura o doce, o salgado e o azedinho, com uma textura cremosa”. Da avó Bartyra, Cil manteve outro legado: o pastel de carne com açúcar e canela, iguaria muito servida nas festas em Alagoas e Pernambuco. “Essa receita era a top dela. Minha avó não podia ir a uma festa sem levar! Se duvidar, ela até seria barrada se não levasse”, brinca.

No restaurante, também dá para provar a versão da neta do bolinho de maizena, que tem uma massa amanteigada que derrete na boca. O charme fica por conta das uvas passas e do açúcar polvilhado, que dão complexidade de sabor ao quitute ancestral.

Cil é considerada cozinheira por não possuir formação na área. Tudo que ela aprendeu foi em casa, passado de geração em geração. “Como minha mãe trabalhava, me deixava com minha avó Batyra. Minha principal lembrança é de acompanhá-la no mercado e na feira para comprar os ingredientes. Mas como ela era muito perfeccionista, só me deixava colocar a mão na massa sob supervisão”, lembra.

Meticulosa como a avó, Cil coloca o mesmo cuidado nos pratos do restaurante. No fim das contas, é tudo sobre afeto. “Eu fui criada assim: demonstrando amor através do alimento”.