Quem vê os vestidos soltos de algodão e linho ou as peças de crochê da cearense Rebeca Sampaio não imagina que ela começou trabalhando essencialmente com couro. Rebeca achava que queria ser arquiteta, mas no meio do curso descobriu que o que amava não era desenhar casas, e sim roupas, e foi estudar Moda na Universidade Federal do Ceará, que tem um dos cursos mais tradicionais do Brasil na área.

Antes de se lançar no mercado, sentiu que precisava aprimorar seus conhecimentos e mudou-se para Londres, onde completou a formação acadêmica no tradicional Instituto Marangoni. Na sequência, conseguiu um estágio com Marios Schwab, um dos expoentes da geração de estilistas britânicos que deu o que falar nos anos 2000, ao lado de nomes como Christopher Kane e Jonathan Saunders.

Retornou ao Brasil em 2012 e foi trabalhar no “chão de fábrica” da Jolie, tradicional marca de fast fashion do Ceará, o que lhe deu a experiência em gestão e processos que precisava para finalmente lançar sua marca própria, em 2014. No início, fazia apenas peças sob encomenda, mas mesmo assim foi convidada para desfilar no Dragão Fashion, o mais importante evento de moda autoral do Brasil, que impulsionou a carreira de gerações de designers cearenses. Foram quatro coleções desfiladas no Dragão, fundamentais para lapidar seu estilo e lhe dar coragem para lançar seu prêt-a-porter, em 2019.

Desde então, suas coleções foram adotando materiais mais típicos do Nordeste, como linho e algodão, usando o couro em detalhes pontuais. Na sequência, veio o crochê, natural para quem é do Ceará, maio polo crocheteiro do Brasil.

Não importa o material, Rebeca consegue imprimir uma identidade própria, acrescentando detalhes que tornam únicas suas peças, como miçangas de madeira costuradas nas barras, golas e alças. “São homenagem a grandes artesãos do Cariri, onde cresci, como Mestre Noza”, explica. O resultado é uma moda cosmopolita, que se torna ainda mais sofisticada graças a esses adornos que carregam a essência do Nordeste e explicitam o encanto do feito à mão.

Rebeca hoje vive no Rio de Janeiro, por conta de demandas de trabalho do marido, onde mantém uma loja-ateliê – mas sua produção continua sendo feita quase que integralmente no Ceará. Fruto de suas andanças pelo mundo, suas coleções têm ar global e cosmopolita, ainda que cada vez mais exaltem os saberes manuais e matérias-primas de seu Cariri natal. É o caso da mais recente delas, não à toa batizada de Essência, na qual tons terrosos (do sertão) se combinam em surpreendente harmonia a uma cartela de branco, preto e pink (!). Na coleção, linho, couro e tricoline de algodão ganham toque especial através das aplicações de miçangas e bordados que seguem linha neon.

Esse talento para equilibrar opostos tem raiz nos tempos da Arquitetura, e hoje é o maior trunfo de Rebeca Sampaio. É o Nordeste em sua mais alta performance.

@RebecaSampaioBrand 

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