Com a popularização das técnicas manuais nas últimas temporadas, várias empresas e grupos passaram a inserir em suas coleções, artigos que trazem esse DNA ancestral para as peças. Basta uma volta nos shoppings que encontramos facilmente nas vitrines esses itens sejam em crochê, palha ou bordados. 

Por se tratar de trabalhos minuciosos e feitos à mão, é necessário questionar de onde vem essa produção em grande escala. Será que esses saberes estão sendo preservados através da valorização de artesãs e artesãos das pequenas comunidades produtoras? Fazendo uma pesquisa no site de uma empresa pertencente atualmente a um grande grupo no Brasil, nos relatórios de sustentabilidade, mostram dados rasos sobre esses processos, extinguindo qualquer informação sobre de onde vem essas peças e como elas são produzidas.

Cada vez mais fica claro como o capitalismo age de uma forma desonesta diminuindo as práticas manuais em nome da venda. É imprescindível apoiar principalmente o microempreendedorismo feminino e empresas que buscam trazer a transparência para o debate. 

O estilista Marcus Figueirêdo, da DePedro, marca handmade de Natal, fala sobre a dificuldade dos grandes grupos em entender a cadeia de produção e seus processos. Para se ter uma ideia, uma empresa nacional solicitou a Marcus de 2.500 a 5.000 mil peças em um período de 30 dias, o que é inviável em relação a moda social que a DePedro acredita.

“Os grandes grupos querem volume. E nós como uma marca que entendemos todos os processos do handmade, focamos em pequenas quantidades de peças, mas com uma grande carga sociocultural agregada”, completa.

A marca cearense, Catarina Mina, é um exemplo no quesito inovação. Antes mesmo da transparência na moda ser pauta, a Catarina Mina abriu integralmente seus custos no Brasil, mostrando todos os processos, fazendo com que a marca ao longo dos 14 anos de existência, acumulasse prêmios de sustentabilidade e responsabilidade social. 

Outro projeto interessante é o Olé Rendeiras, que atua na preservação da renda de bilro no Trairi, através de mais de 230 artesãs que, inclusive, já desfilaram na Semana de Moda de Milão, no segmento Brasil Eco Fashion Week, responsável por fomentar a moda sustentável e ética. 

Em Recife, a estilista Caroll Falcão traz os bordados de Passira, município pernambucano que já foi o polo dos bordados, onde ela destaca que são feitos por mulheres fortes, como Dona Lúcia, que faz questão de repassar esses saberes para os mais jovens.

“Hoje faço esse trabalho também com mulheres que usam seu talento para completar a renda da família. Nesse processo, quase não existe uma negociação. O que elas me cobram eu pago, repasso na roupa e as clientes também acham justo. E sendo bem clichê, assim a gente faz um mundo melhor”, completa Caroll.

Ao financiar essas empresas que fantasiam o handmade, somos coniventes da perda simbólica através das artes manuais e cúmplices de um trabalho de teor duvidoso. É como se o propósito por trás de cada peça construída com história, fosse desvanecendo e se tornando cada vez mais um produto que já não lembraremos na próxima temporada.

Que tal apoiar quem realmente acredita em uma moda mais justa?