Lente sensível
Lente sensível
Quem abre o perfil no Instagram da Tambureti se depara com um relicário de imagens que traduz de maneira poética o cotidiano do Seridó, no sertão potiguar, através da arquitetura, das pessoas, das palavras encontradas nas paredes expressadas de forma vernacular, registrando os costumes de uma região e suas manias.
Osani da Silva, 29, figura por trás do perfil, entendeu que a arte ia muito além do feio e do belo, e que poderia de alguma forma questionar as estruturas sociais, trazendo pautas antirracistas r que questionassem estruturas de gênero.
Osani nasceu e cresceu na cidade de Acari, no Seridó, em uma família periférica composta por sua mãe e dois irmãos, sem muitas influências e acessos dentro do município com pouco mais de 11 mil habitantes.
“Um dos meus primeiros trabalhos de impacto foi um protesto pela morte de Zaira Isis Lacerda Dantas, vítima de feminicídio na minha cidade, mas que terminou sendo acusada de ter provocado sua morte por suposto uso de drogas. Criaram até uma lei de prevenção às drogas com seu nome e aquilo me feriou muito, era como se ela tivesse sido assassinada diversas vezes. Não sabia como me expressar, mas fui até a praça onde havia uma cruz em sua homenagem e a fotografei, fiz um print da lei e abordei as problemáticas de tudo isso”, conta Tambureti, que ganhou o apelido do avô, que a chamava de “Tamborete de Forró”, por sua estatura baixa.
A repercussão foi grande e Osani usou o codinome Tambureti para se preservar. Com o tempo, foi deixando o medo de lado. O começo não foi fácil, comprou uma câmera de segunda mão e foi observando o cotidiano de Acari com um olhar além do caricato típico do sertão.
“Eu olhava a vegetação, as casas e seus fragmentos, até criar uma séria chamada de ‘O que as ruas falam’, trazendo os letreiros curiosos e originais não só de Acari, como de outras cidades do Seridó.”
Hoje Tambureti segue cursando audiovisual na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mora em Natal, mas continua registrando 100% de seu trabalho na região onde cresceu. Usa do olhar para dar voz às causas que precisam, mas nunca deixa de lado a sensibilidade de entender que a beleza está no caminho – seja ele qual for.