A quase 2 km do Quadrado de Trancoso, na selvagem Estrada dos Macacos, encontra-se uma pequena casa de madeira, um refúgio dentro de outro refúgio. É lá que nascem as belas cerâmicas de Silvina Rosas, argentina que fez morada no Sul da Bahia há 20 anos e que se inspira na natureza local para dar moldar e dar vida a peças utilitárias e objetos de arte.

Criada no interior da Argentina, Silvina se mudou para Buenos Aires para estudar Belas Artes. Só que a cerâmica já estava na sua vida desde a infância, como uma vocação. “Naquela época não se acreditava na cerâmica enquanto um ofício, então meus pais nunca me deixaram ter um ateliê em casa.”

A artista não conseguiu se adaptar à efervescente Buenos Aires e aceitou o convite de uma amiga para conhecer Trancoso. Em menos de um mês, já se sentia em casa e começou a trabalhar com Calá, escultor e ceramista de São Paulo que se mudou para a Bahia ainda em 1973. Ele é o clássico “biribanda”, gíria usada pelos locais para se referir aos hippies que debandaram para Trancoso nos anos 70.

Por anos, Silvina ajudou Calá, com quem terminou casando, em seu trabalho autoral com esculturas, mas sem perder sua paixão pelo utilitário. Há 4 anos, separou-se e decidiu “seguir carreira solo”, aventurando-se na pintura com pigmentos minerais e na queima em alta temperatura.

A ceramista tem Trancoso como maior fonte de inspiração, das frutas aos frutos do mar. E inventou seu próprio processo de fabricação do barro: ela deixa a argila em uma caixa d’água por 4 meses, repousando, para que sejam criados microorganismos que transformam a matéria-prima. Só depois vem o molde, a pintura e a queima.

As peças utilitárias, como vasos, cumbucas e copos, aparecem em uma paleta que varia entre branco, verde e azul. “São tons da natureza. E as cores não são criadas: uso apenas corantes minerais.”

Há dois meses inaugurou a nova loja/ateliê, que é uma casinha de madeira inspirada nas casas dos pescadores – e já virou parada obrigatória em Trancoso. Lá, além de expor e vender as peças, Silvina dá aulas de cerâmica.

Perguntada sobre os planos para o futuro, a ceramista dá uma resposta que só quem segue o ritmo da própria criação e da natureza pode dar: “Quero seguir fazendo o que amo no ritmo que dou conta. Não adianta querer crescer para se estressar”. É sobre não se apressar – e apreciar o caminho!