As brincadeiras de infância com primos e amigos no interior do Maranhão são as principais inspirações do muralista Romildo Rocha, 32 anos, um dos maiores xilogravuristas da atualidade. “O que desenho hoje é retrato do que vivi, tenho uma relação muito próxima com meu povo”, diz.

Filho de pai roceiro e mãe quebradeira de coco, Rocha cresceu na capital São Luís, onde ele vive até hoje, mas passava temporadas em Coelho Neto e Duque Bacelar, terra dos pais. Daí os passarinhos e bicicletas tão recorrentes em seu repertório – e o azul, que para ele é sinônimo de alegria e tranquilidade.

Assim como o Menino Maluquinho, personagem icônico de Ziraldo, era com seus desenhos nos versos de provas escolares que Rocha ganhava elogios das professoras. Apesar de seus talentosos traços no papel, os testes em si costumavam ficar em branco, pois ele não sabia as respostas, e, claro, suas notas eram baixas.

Formado em Artes, o maranhense chamou atenção pela habilidade para o desenho ainda criança. Seu plano, contudo, era seguir a carreira militar. Chegou a fazer concursos, mas nunca passou – e acabou trocando o sonho antiga pela faculdade de Desenho Industrial e Artes, em que havia sido aprovado ao prestar vestibular.

Aluno mediano em quase todas as matérias (porém, um verdadeiro pop star em ilustrações!), nos trabalhos em grupo ele sempre acabava responsável por executar as tarefas gráficas, estratégia que usava para passar de ano nas disciplinas.

Os colegas o batizaram de “artista”, porém Rocha rejeitava o título. “Não gostava, soava pejorativo naquela época. Mas, claro, não tinha o conhecimento e a maturidade que possuo hoje”, conta lembrando que demorou a “sair do armário” – como gosta de brincar – e se assumir como um artista multifacetado bastante promissor.

No entanto, ele rapidamente se encontrou na nomenclatura de seu ofício e, desde então, nunca mais parou de produzir arte. Os primeiros trabalhos foram murais para lojas, instituições e residências de pessoas que o haviam descoberto via internet. Seus murais ganharam fama pela comicidade temperada do repertório afetivo da infância, daí o estilo brincalhão de sua obra, que lhe rendeu troféus na Mostra Maranhense de Humor, em 2008 e 2009.

Ainda que seja mais conhecido pelos murais, Rocha usa muitas plataformas: grafite, xilogravura, desenho digital e até tatuagem. “Sou inquieto, sempre quero experimentar novos métodos, mas sem fugir de quem eu sou”, diz. Essa versatilidade fez com que desenvolvesse uma coleção de objetos para casa chamada de Vento Leste (segunda foto ao lado), produzida pela Bobinexuau, com papel de parede, almofadas, jogos de cama, cachepôs e jogos americanos.

“A partir das suas construções gráficas originais, o artista cria novos contextos para esses elementos tradicionais, embrenhando-se em variadas linguagens”, diz um texto sobre o trabalho de Rocha assinado pela dupla Baixo Ribeiro e Laura Rago. Para Rocha, a narrativa é mais importante que a estética. Ainda que o preto e branco das xilogravuras seja belo, ele não pretende seguir reconhecido apenas pela técnica. Ele quer mais.

Curioso incansável, seu desejo é jamais parar de pesquisar e experimentar. “No início da carreira, trabalhava com agências de propaganda e, além de engessado criativamente, me sentia desvalorizado porque algumas ofereciam R$ 7 mil para um artista de São Paulo e menos da metade para mim para a execução de um mesmo trabalho”, conta associando isso ao preconceito por ser nordestino.

Talvez por esse ecletismo e essa autenticidade, ele se orgulhe tanto do projeto Cores da Vila que criou, em Vila Embratel, bairro da periferia de São Luís onde cresceu. No início, o objetivo era apenas colorir as casas do bairro, mas ele foi além e hoje promove oficinas criativas para mães e filhos. Os recursos para manter a iniciativa de pé saem do próprio bolso, com ajuda de duas amigas. Nada o motiva mais que a empolgação das crianças. “A gente entra nas quebradas com uma latinha de spray de tinta na mão e os moleques, todos mal-encarados, botam a maior fé no nosso trabalho”.

Mais informações e encomendas pelo perfil do Instagram @rocha1p ou pelo número (98) 98252-3102.