Nascido e criado no Cariri, no sertão cearense, não surpreende que o designer Igor Sabá tenha usado a carnaúba como inspiração para sua primeira linha de móveis. No Ceará, a palmeira nativa da região semiárida é chamada de “árvore da vida” porque toda a sua estrutura é aproveitada para fazer alguma coisa, de cera a bolsas e objetos de decoração trançados com sua palha.

Em ‘O Sertanejo’, José de Alencar utiliza as palavras “sobriedade e perseverança” para caracterizar a planta – e, por consequência, o próprio povo do Ceará. Não por acaso, sobriedade e perseverança são duas definições que caem como uma luva para falarmos sobre o mobiliário e objetos que levam a assinatura do Estúdio Sabá, a marca de Igor.

Mas engana-se quem acredita que a linha desenvolvida pelo designer seja feita da palha da carnaúba – reconhecível, mas nada óbvia, a inspiração que vem da planta aparece mais no material que no formato das peças.

É o caso da luminária Carnaúba e da poltrona Ubá, feitas de chapas de ferro cortadas a plasma que imitam o desenho da folha da palmeira. “O interessante no caso da poltrona é a ergonomia que torna uma peça de ferro superconfortável”, conta Igor, fã de carteirinha do trabalho dos Irmãos Campana, sua grande inspiração.

“Gosto do fato de que minhas criações saíram no nicho puramente artístico para virarem objetos de design com funcionalidade para o cotidiano”, completa, acrescentando que a poltrona funciona tanto para ambientes internos como externos. “As pessoas usam para a casa de praia e para ambientes cosmopolitas”.

Formado há quatro anos em Design de Produto pelo Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo, Igor voltou a Fortaleza durante a pandemia e, como muitos nordestinos que haviam migrado, decidiu ficar por lá. Filho de mãe artista plástica autodidata e pai dono de loja de móveis em Juazeiro, no Cariri, Sabá cresceu cercado pelo talento dos artesãos da região, mestres em madeira e barro e também habilidosíssimos na cestaria. “Comecei fazendo um curso de pintura, pois sempre gostei muito de desenhar, desde criança. Antes de escolher a faculdade, eu só sabia que não queria ser médico”, brinca ele com o fato de que essa era a profissão de prestígio almejada por todos no local.

“Com todo aquele potencial ali, não havia como me estabelecer em outro lugar”, diz – mesmo atualmente morando em Fortaleza, a cada dois meses ele passa longas temporadas no Cariri para criar ao lado dos artesãos. “Batizei minha produção de ‘mista’ porque o processo é de fato um híbrido entre o artesanato e a indústria”, conta ele. “Valorizar o trabalho dos artesãos é o que dá sentido ao meu trabalho. E, para mim, é essencial ter esse propósito no processo produtivo de cada peça”.

O designer traduz a memória de sua terra em todos os projetos, valorizando a cultura artesanal e enaltecendo símbolos regionais. Feitos de couro, os tradicionais arreios de cavalo viram assento no banco Boiada.

Já o barro aparece nos vasos Chaminé e Marimbondo, que reproduz o formato e a textura das temidas casas do inseto. Feito à mão pela artesã Corrinha Nascimento, in loco no Cariri, o Marimbondo foi desenhado para ser pendurado na parede (fica belo com ou sem planta). A peça foi destaque na edição da Casacor Ceará 2021, onde conjuntos de quatro e dois vasos presos numa parede rústica de tijolos aparentemente deu bossa única ao ambiente projetado pelo escritório de arquitetura Studio Linear. “Alguns vasos foram expostos com jiboias plantadas neles – achei bem bonito”, sugere Igor.

A palha de carnaúba, logicamente, também faz parte de seu repertório, caso da mesa Horto, uma das peças prediletas do designer, que reproduz o desenho dos tradicionais chapéus de palha (a inspiração de Igor veio principalmente dos usados por Padre Cícero), só que de cabeça para baixo. “A palha de carnaúba tem em sua composição uma cera que forma uma película que protege, tornando-a resistente à umidade e líquidos em geral”, conta ele, feliz da vida em perceber a árvore da carnaúba cada vez mais usada como simbologia estética nos projetos urbanos das cidades do Ceará.

“De uns tempos para cá, começou uma onda coletiva que valoriza essa planta nativa, que, além de tudo, se adapta muitíssimo bem ao clima nordestino. É uma alegria andar por aí e poder vê-las nos espaços públicos”, diz. É mesmo – que assim permaneça!

As peças do Estúdio Sabá podem ser encontradas no boobam.com.br. Mais informações no estudiosaba.com e no Instagram @estudiosaba.