O crochê sempre fez parte do universo de referências da cearense Gabriela Fiuza, ainda que indiretamente. “Fui aluna de uma escola Waldorf, que incentiva muito trabalhos manuais. E passava férias na Jijoca, polo crocheteiro rústico, que abastece lojinhas de todo o nosso litoral”, conta. Ávida consumidora de moda nacional, paixão que herdou da mãe, Gabi foi estudar moda na Universidade Federal do Ceará inspirada por nomes como Gloria Coelho, Lino Vilaventura e a mineira Terezinha Santos, da Patachou.

Objetiva, começou a moldar o que seria sua marca ainda na faculdade, em 2016, durante o trabalho de conclusão de curso, combinando o fascínio por mestres da moda nacional a essa convivência com o crochê, A ideia era desenhar uma linha casual, que resolvesse a vida da consumidora em diversas ocasiões do dia, em que crochê e linho fossem o carro-chefe.

No entanto, nos primeiros anos da marca, ainda trabalhando em casa, terminou tendo de desenhar muitos vestidos de festa, exigência da clientela, que buscava roupas mais formais que tivessem também um DNA local. Gabriela penou até conseguir desenvolver um trabalho em crochê que pudesse ser usado em vestidos de festas e peças urbanas e casuais. “Não podia ser rústico demais, nem hippie, como as peças produzidas na Jijoca, até porque a minha cliente queria usar crochê à noite, na cidade”.

Durante a pesquisa em busca do ponto perfeito, encontrou estilistas que faziam trabalhos deslumbrantes, como a gaúcha Helen Rodel, que lhe abriram os olhos para todo um lado mais sofisticado da técnica. Mas as peças da Helen, esculturais e não muito apropriadas ao público de Fortaleza, também não eram a resposta. “Queria sofisticar o crochê que conhecia, mas sem ficar escultural demais, precisava ser usável. Experimentei muito até descobrir o ponto que funciona, deixando as peças com o peso certo.” Hoje Gabi e suas artesãs modelam direto no manequim, para garantir o movimento necessário, e sabem direitinho quais pontos usar, evitando que as peças fiquem “duras”.

A cearense trabalhou em casa durante três anos, com pronta-entrega para peças mais casuais, e criando sob medida para os vestidos de festa. O linho puro ia para as peças da linha premium, enquanto o linho misto era usado para looks cotidianos, “bate-caixa”, como gosta de dizer. Sua casa logo ficou pequena, Gabriela sentiu que precisava dar o próximo passo, e em 2019 começou a montar um business plan para a loja próprio. “Minha faculdade incentivava bastante o empreendedorismo, a criar nossos próprios negócios com base na economia criativa e sustentável, em sintonia com as novas formas de consumo”, conta.

Com um financiamento do Banco do Nordeste, abriu sua loja no prestigiado bairro de Aldeota em março de 2020, justo quando o Covid-19 chegou ao Brasil e paralisou o país. Gabriela voltou para casa no lockdown, mas não parou de produzir. E, quando a loja pode finalmente voltar a funcionar, as clientes apareceram aos montes, mostrando que a decisão de ter um espaço próprio mais estruturado havia sido acertada.

Adepta de tons terrosos e neutros, inspirados no sertão do Ceará, Gabriela aprendeu a ouvir as demandas das clientes nos anos trabalhando sob medida e hoje você encontra pinks, amarelos e marinhos em suas coleções, ainda que os terrosos estejam sempre lá. O crochê e o linho puro ocupam as araras o ano todo, mas ela também usa linho misto e algodão para oferecer peças mais em conta, as tais bate-caixa.

“Uma marca de sucesso tem que ser linda na teoria, e na prática também. E para isso precisa ser viável. Não adianta contar uma história bonita, se não for rentável para mim e para quem trabalha comigo. As peças de cambraia e de fibras naturais mais acessíveis são a porta de entrada para a cliente conhecer a marca e o trabalho do crochê de perto. E também dão mais opções para quem já é fiel, porque ninguém vai querer vestir apenas crochê”, argumenta.

Tendências? Gabriela não acredita nisso. A atemporalidade é fator chave de suas coleções, e a ideia é que as peças durem para sempre.

@GabrielaFiuzaOficial

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