Dendê é sinônimo de acarajé, abará e moqueca, mas muito além da culinária, um casal vem transformando o óleo usado pelas Baianas de Acarajé em uma interessantíssima linha de sabonetes com aromas locais como barbatimão e licuri. No caso de Carol e Flávio da startup ÓiaFia!, “a vida deu limões” e eles transformaram em sabão.

A ÓiaFia! Saboaria Artesanal é “filha da pandemia”: começou quando Carolina Heleno, mestre em Educação, apresentou uma alergia na pele que não saia com nenhuma medicação. Foi aí que o marido Flávio Cardoso, químico e doutor em Biotecnologia, formulou um sabonete que resolveu o problema. A isso, somou-se a preocupação com o descarte correto de resíduos.

Um dia, o casal foi comer acarajé na rua e Flávio perguntou para a Baiana o que ela fazia com o óleo. A resposta? Jogava fora como dava. “Ficamos dois anos testando os produtos. Submetemos o projeto em editais e começou a rodar”, conta Flávio.

A ideia da dupla era chegar a um produto que não remetesse, em nada, ao dendê, mostrando que é possível fazer itens mais sustentáveis e também competitivos. Além disso, queriam que as fragrâncias e as embalagens remetessem à diversidade de culturas dentro da própria Bahia.

“A produção de sabão a partir do óleo é algo ancestral. A ciência e o mercado colocaram um nome, mas é algo feito há décadas. Minha contribuição enquanto químico foi apenas de colocar técnica – e criatividade – no processo”.

Os produtos são feitos a partir da mistura do óleo de dendê, outros óleos e hidróxido de sódio (soda cáustica), que levam a uma reação química denominada de saponificação, produzindo sabão e glicerina.

A marca possui dois produtos que colocam em evidência o dendê: “Um Xêro da Bahia”, sabão feito com azeite de dendê e óleo essencial de citronela; e o sabonete “Êta Baiana!”, também natural e vegano, mas óleos de coco de babaçu, rícino e girassol, para garantir a hidratação da pele.

Sobre a matéria-prima, a ÓiaFia! tem hoje uma rede de 30 baianas fornecedoras e calcula que, desde 2022, já evitou o descarte incorreto de 4 toneladas do óleo. Os produtos são feitos em um laboratório na residência do casal, mas a ideia é abrir uma “fabriquinha” – estão com uma campanha de financiamento coletivo.

Carol trabalha meio período, mas Flávio vive por conta da ÓiaFia!, fazendo cada produto manualmente. Apenas o processo de coletiva seletiva e o marketing são terceirizados.

A startup se planeja para lançar, em breve, xampu e condicionador sólidos. “Focaremos sempre em produtos em barra porque eles exigem menos consumo de água na fabricação e também evitamos o uso de embalagens plásticas”.

Os sabões e sabonetes estão à venda no site da marca.