Arte do feminino
Arte do feminino
Ser mulher é viver na dualidade. É sentir na pele a necessidade de ser forte, mas também delicada. Essa dicotomia também guia a arte da Marlene Barros, maranhense de Bacurituba que usa esculturas e instalações para refletir sobre o que é ser um corpo feminino no mundo – especialmente no Nordeste.
“Eu fui escolhida para falar sobre o feminino. Nunca nem pensei em falar sobre outra coisa”, declara, de bate e pronto, a artista. Nascida no município que fica a quase 140km da capital, Marlene se mudou para São Luís ainda pequena, aos 3 anos. Sua mãe teve oito filhos e ela foi criada por uma tia que vivia na capital. Mas lembra-se com muito carinho das férias em Bacurituba, onde brincava de argila com os irmãos e já tinha curiosidade pelas olarias da cidade.
Acredita, inclusive, que foi aí que começou sua relação com a arte. Na hora de escolher a graduação, ficou com medo de optar pela verdadeira vocação e escolheu Desenho Industrial. Mas como o começo do curso era bem similar ao de educação artística, aprendeu a mexer com diversos materiais. “Eu sempre gostei de desenhar, mas me descobri quando passei a trabalhar com cimento, madeira e gesso”.
Concluído o curso na Universidade Federal do Maranhão, ficou por lá trabalhando como produtora cultural – e segue até hoje. “Eu já devia estar aposentada, mas não consigo ir embora. Me divido entre a galeria e os projetos no campus e o meu trabalho enquanto artista”.
Depois de receber um precatório que já parecia lenda, Marlene realizou o sonho do ateliê próprio. É em uma casa tombada no Centro de São Luís, na Rua do Giz, 444, que nascem as esculturas que retratam figuras femininas a partir de uma mistura de resina com pó de mármore. A artista também experimenta com outros suportes, como tecidos e linhas.
Em 2021, por exemplo, estreou no Sesc a exposição “Eu Tenho A Tua Cara”. As obras eram crochês que se interligavam a partir de fotos que eram, na verdade, a colagem de várias mulheres. Marlene queria discutir o lugar da mulher no tecido social e como ela torna- se um apêndice no corpo do outro, às vezes anulando a própria existência.
O pensamento questionador, porém, não ofusca o otimismo da maranhense. “Sempre tem um momento que a arte nos grandes centros se esgota. Por isso, os olhares voltam-se para outros locais. É muito importante que os artistas do Nordeste ganhem destaque”. A gente também acha, Marlene!