Correria artística
Correria artística
O que te faz sair de casa para trabalhar? E o que te faz voltar? São essas duas perguntas que guiam a principal linha de pesquisa de Marcos da Matta, baiano que faz retratos realistas e com cores vivas de trabalhadores, sobretudo autônomos, na lida diária. Com olhar sensível e pop, eterniza vendedores de café, de algodão doce, picolé, entre outros.
Nascido e criado na pequena Conceição do Almeida, no Recôncavo Baiano, Marcos desenhava desde a infância. No ensino médio, começou a pintar fachadas de lojas, desenhar pessoas e vender roupas customizadas com pinturas para ajudar no sustento de casa. Resolveu apostar no dom e, em 2014, se mudou para a histórica e vizinha Cachoeira para estudar Artes Visuais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Mas, quando se formou em 2019, não sabia como iria ganhar dinheiro. O caminho escolhido? Sair para a rua e vender sua arte. “Entendi logo que a rua seria meu ganha pão. Vendia quadros, mas tinha gente vendendo comida e bebida, carregadores, mototaxistas, todos tentando se sustentar.”
Desta fase nasceu a série “Correria”, premiada em 2022 no Salão de Artes Visuais da Bahia e destaque da galeria RV Cultura E Arte na SP Arte Rotas Brasileiras, em agosto passado.
Marcos volta e meia aparece nas telas, às vezes exercendo seu ofício, outras como vendedor de picolé ou na barraca de frutas. Um destaque afetivo é a tela “Voltando Pra Casa” na qual a protagonista é sua mãe, Edinaide. Ela também aparece em “Deus te Acompanhe”, assistindo o filho sair para o trabalho.
“Minha mãe criou sozinha três filhos e sempre foi um exemplo. Trabalhou em armazém, mas fazia faxina, cozinhava e lavava. Mesmo sem ter conhecimento, sempre incentivou meu lado artista.”
Na faculdade, começou a pintar com tinta acrílica, melhor opção para quem morava em residência estudantil: era prática, secava rápido e não tinha cheiro.
Sem nunca adotar uma linguagem “poliana”, Marcos pinta a luta cotidiana nas ruas com poesia e otimismo. “Busco na arte o prazer da vida. A realidade oprime, mas não é só disso que ela é feita. Quero mostrar o que nos faz ir para a rua e, especialmente, o que nos faz voltar: a família, um companheiro…”.