Maranhão estampado

Lisyane Arize é baiana de Mirangaba (extremo norte da Chapada Diamantina), viveu em Salvador na adolescência, formou-se em moda no Rio de Janeiro, começou a carreira em São Luís, aprimorou sua técnica em Paris, lançou sua marca em Bordeaux e, na semana passada, abriu sua segunda loja no Maranhão, a primeira em Atins, a remota vila que é entrada para os paradisíacos Lençóis Maranhenses.

Ficou cansado só de ler? Então respire porque, apesar da trajetória em ritmo de maratona de sua fundadora, a moda da Lizze é slow e seus planos de dominação global também.

Nascida em Mirangaba, município de 18 mil habitantes a 350 km de Salvador, Lisyane mudou-se para a capital aos 17 anos para estudar geometria. Mas logo descobriu que seu compasso era outro. Como os cursos de moda em Salvador ainda não tinham reputação, foi estudar na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, na época uma das mais prestigiosas na área.

Com espírito desbravador, aceitou o convite de um dos professores e, assim que se formou, partiu para São Luís com a missão de trabalhar num projeto de fortalecimento da moda local. Por dois anos, foi coordenadora do Núcleo de Design do Senai, mas sentindo falta de uma formação técnica mais robusta e para especializar-se em alta-costura, em 2012 partiu para nova temporada de estudos em Paris, na Esmod (École Supérieure des Arts et Techniques de La Mode), uma das mais tradicionais da Europa.

Um ano depois, lançou a Lizzi em Bordeaux, onde estava morando, trazendo a identidade nordestina sobretudo nas peças com brilhos e bordados que remetiam ao Bumba-Meu-Boi.

Mesmo morando fora, desfilou por três anos consecutivos no Dragão Fashion, em Fortaleza, mais importante semana de moda do Brasil fora de São Paulo. Também se apresentou por três vezes em Paris, em eventos paralelos à semana de moda, entre 2017 e 2021.

De volta a São Luís em 2018, abriu uma loja-ateliê no Centro Histórico. Kitesurfista nas horas vagas, foi uma das pioneiras a desbravar Atins, que inspira suas coleções resort, tanto nas peças de seda pura com imagens digitais que reproduzem os Lençóis, seja com a exaltação do mangue nas alças que reproduzem os galhos retorcidos da paisagem.