Arte crítica

Lampião e Maria Bonita, Catarina Paraguaçu, figuras do candomblé, indígenas. As telas da paraibana radicada em Salvador Lilian Morais procuram retratar seu cotidiano e heróis nordestinos numa tentativa de descolonizar as artes.

Para Lilian, “política está em tudo” e ela mesma se define como uma “artivista”, já que usa as telas como suporte para criticar também o patriarcado colonial, colocando em destaque quem estava na “sombra”: mulheres e indígenas, por exemplo.

“A arte contemporânea do Brasil ainda bebe muito de referências americanas e europeias. Quero mostrar que temos outros estilos e muitos com a cara do Nordeste. Quero colonizar o ‘primeiro mundo’ com a nossa arte”, provoca.

Nascida na Paraíba, Lilian se mudou com dois meses para Vitória da Conquista, no sul da Bahia. Morou por lá até os 18, quando foi fazer faculdade em Salvador. “Queria estudar Belas Artes, mas o sonho foi impossibilitado porque eu precisava trabalhar para me sustentar e achava impossível ganhar a vida como artista.”

Escolheu Publicidade e Propaganda porque assim poderia ter o “melhor dos dois mundos”: trabalhar em uma área que tivesse mais possibilidade de emprego, mas sem largar o visual. Foram mais de 20 anos se dedicando ao marketing político. Mas nunca parou de pintar e expor, chegando até a participar de salões e bienais fora do país. “Era o marketing que bancava meu sonho.”

Há cinco anos, a política saiu das campanhas as telas. Representada pela Acervo Galeria, hoje vive exclusivamente de arte. Depois de finalmente estudar História da Arte, decidiu que era hora de descolonizar o próprio trabalho. “Pinto o que tem a ver com o que vivo, onde moro, influências populares, minha família paraibana, e a vivência em Salvador, com todas as influências afro-brasileiras.”

As telas da artivista são coloridas e vivas, mas sempre têm um objeto ou um personagem em preto e branco, com estampa quadriculada. Não é à toa. “É meu jeito de representar a presença masculina, o patriarcal e o colonizador.”

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