Conhecida por suas bolsas que deram novo status aos acessórios de crochê, fazendo com que saíssem do lugar-comum praiano-hippie e tomassem conta das cidades e até de festas de casamento, a marca cearense Catarina Mina segue firme em sua missão de preservar os saberes manuais regionais.

Preocupada com o baixo valor que anda sendo pago às peças de renda labirinto, uma das mais tradicionais artesanias do Nordeste, que chegou ao Brasil no século 17 pelas mãos dos portugueses, Celina Hissa, diretora criativa da Catarina Mina, decidiu transformar essa tradicional tipologia em…. joia!

Saber tradicional de extrema importância histórica, essa tipologia segue viva graças às labirinteiras de Aracati, no litoral leste do Ceará, pertinho de Canoa Quebrada. A técnica é tão minuciosa que não existe um modo de ensinar, a não ser pela observação das artesãs experientes, que usam a habilidade manual para bordar os emaranhados de pontos através de uma “grade”, que serve de auxílio para desfiar os finíssimos fios de tecido, geralmente o linho.

O problema é que as lindas toalhas e jogos americanos andam sendo comercializados em mercados de artesanato por preços muito aquém de seu valor, o que faz com que as filhas das artesãs percam o interesse em aprender com suas mães e avós o ofício, colocando-o em risco de extinção, já que sempre foi passado de geração em geração.

“Como outras tipologias do litoral cearense, e do Nordeste como um todo, a renda labirinto corre o risco de desaparecer. Essa ameaça é causada pela falta de investimento nos grupos de artesãs e pela grande quantidade de atravessadores até que o produto chegue ao cliente final”, explica Celina.

Foi aí que veio a ideia brilhante: se o problema era o baixo valor pago por trabalho tão rico por que não transformá-lo em joia, aumentando seu valor agregado? Nascia assim a primeira coleção de joias da marca cearense, que por enquanto possui apenas quatro modelos de brincos, feitos de renda labirinto com suporte de prata 950.

O design foi pensando em conjunto pela equipe de estilo da Catarina Mina e Dona Bia, a grande mestra do labirinto na região. Aos 82 anos, ela é uma memória viva de Aracati: conta histórias e envolve as artesãs mais jovens na atmosfera mágica desta arte ancestral, e ainda dança coco de umbigada, uma dança típica dos povos do mar do Ceará.

“Acreditamos numa moda justa, e para isso o primeiro passo é investir nas artesãs e em seus grupos, assumindo os riscos maiores de investimento. Seguimos com o modelo de custos abertos e asseguramos ganho justo para todas as artesãs, com valores decididos sempre em conjunto”, explica Celina. A Catarina Mina, para quem não sabe, foi a primeira marca de moda a abrir os custos no Brasil, mostrando exatamente como cada processo funciona.

As joias são limitadas e numeradas, e a renda aparece em cores como lima, cabaça, tangerina e off-white. Cada compra vem em uma delicada embalagem, acompanhada de um QR code para quem quiser conhecer melhor Dona Bia e os saberes artesanais de Aracati – o crochê, o trançado de palha, a renda de bilro e a de filé também são fortes neste pedaço do Ceará que une mar e sertão.

@CatarinaMina

www.catarinamina.com