Azul anil
Azul anil
As suas lembranças têm cor? As de Jhonyson Nobre têm – e são azuis. Artista alagoano autodidata, Jhonyson ganhou destaque com “Azul é a Memória”, série em que retrata a própria família com a missão de contar um pouco do Brasil, abordando tópicos como violência, racismo e apagamento histórico.
Nascido e criado em União dos Palmares, a 73km de Maceió e onde foi instalado o Quilombo dos Palmares no século 16, Jhonyson foi uma típica criança do interior. “Sempre brinquei na rua e tive muita liberdade. Meus pais apoiavam meu lado lúdico: foram eles que me deram as primeiras telas e tintas”, lembra.
Em 2016 se mudou para Maceió, onde cursou Direito. Apesar da faculdade, não abandonou nunca a cidade natal – inclusive, até hoje se divide entre os dois eixos. Mas foi durante o curso que passou a se interessar de forma mais firme pelas artes. Começou com a teoria e a história da arte e depois partiu para as telas.
Na pandemia, produziu com frequência e encontrou seu caminho estético. Jhonyson usava tintas acrílicas e a óleo, mas com o tempo desenvolveu uma alergia aos químicos dos materiais. Foi preciso se reinventar. Recuperou, então, um amor antigo: a fotografia.
“Comecei a catalogar e digitalizar as fotos da minha família, criando uma narrativa. Meus pais, tios e avós contavam a história de um Brasil pungente. Somos uma família negra do interior de Alagoas com muitos tópicos intercalados: apagamento histórico, racismo e baixa autoestima.”
Jhonyson acredita que uma história tão miscigenada como a sua deveria resultar em um trabalho igualmente diverso nas técnicas. Começou, então, a misturar fotografia, pintura e outros materiais como tecidos e o bordado. Nas telas, personagens comuns que carecem de protagonismo. Familiares e amigos aparecem em aniversários e casamentos.
Diverso nas exposições de seu trabalho, neste ano Jhonyson expôs em União dos Palmares e no Carrousel Du Louvre, em Paris. Apesar de a carreira prosperar, segue atuando como advogado, focando em questões do mundo artístico, como direitos autorais.
“Acredito que nascemos todos artistas, mas acontece algo no caminho e deixamos de ser”, pontua. Para nossa sorte, ele retomou seu caminho!