Guilherme de Almeida estava no ensino médio quando entrou em um museu pela primeira vez. O baiano sempre teve aptidão para o desenho, mas como muitos meninos periféricos não via a arte como uma possibilidade de carreira. Na adolescência, entretanto, sentiu que deveria explorar melhor o hobby da infância e se matriculou num curso de pintura no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM).

“Apesar de a maioria dos museus de Salvador serem gratuitos, não sentia que aqueles ambientes fossem para mim. Quando entrei no MAM, fiquei encantado com as aulas e exposições. Me encontrei ali, tive a certeza de que aquele lugar faria parte da minha vida”.

A profecia se concretizou rápido. Guilherme estudou Artes Plásticas na Universidade Federal da Bahia (UFBA), fez residência em Portugal e hoje, aos 23 anos, é um dos nomes emergentes da arte contemporânea do Nordeste. Prova disso é que uma mostra individual sua ocupa até 15 de junho a Paulo Darzé Galeria, a mais importante de Salvador. Batizada de “Desfrutar do Tambor”, a mostra reúne 12 telas que trazem cenas cotidianas e festas populares de Salvador pintadas com tinta acrílica sobre recortes de jornal.

O uso de materiais poucos convencionais é uma das marcas registradas de Guilherme – Eucatex e sucatas também já entraram em suas obras. “Comecei a usar materiais alternativos na faculdade. Os professores pediam que trabalhássemos com tela, tinta a óleo, acrílica, aquela coisa bem eurocêntrica. Só que, como todo estudante vindo da periferia, não tinha como comprar todo esse material.”

Morador do Uruguay, bairro na Cidade Baixa próximo ao Bonfim, Guilherme não incorporou por acaso jornais em suas obras. “Minha família juntava todos os jornais e garrafas PET que consumíamos para doar a um centro cultural do meu bairro, que transformava sucatas em móveis e bijuterias.”

Apesar de hoje ser pintor figurativo, trazendo narrativas que evidenciam a posição do corpo negro em contexto contemporâneo, Guilherme diz que na faculdade experimentou de tudo. “Comecei com pintura abstrata e só depois retornei ao figurativo dos meus desenhos da infância.”

Na próxima quinta, Guilherme desembarca em São Paulo para uma exposição ao lado do pernambucano José Claudio na Galeria Base. Imperdível!

Paulo Darzé Galeria: Rua Dr. Chrysippo Aguiar 08 – Salvador, Bahia

Galeria Base: Alameda Franca, 1030 – Jardim Paulista, São Paulo