Folclore futurístico
Folclore futurístico
Marisa Monte canta “só não se perca ao entrar no meu infinito particular”. O trecho da música casa bem com o trabalho do ceramista e muralista Glauber Arbos. O recifense de 34 anos usa diferentes suportes, da tinta ao barro, para criar personagens que são fruto de um grande caldeirão de referências, das ficções científicas que amava na infância até o Movimento Armorial de Ariano Suassuna, passando também pelo Manguebeat de Chico Science.
Artista autodidata, Glauber começou a desenhar ainda na infância. “Me lembro de desenhar dinossauros com meu pai, bem inspirado nos desenhos que assistia. Acho que foi aí que começou tudo.” Servidores públicos, os pais não conheciam nenhum artista na família, mas sempre apoiaram o filho a seguir o próprio dom.
Aos 11 anos, conheceu a arte de rua através de um amigo e se apaixonou, mergulhando na cultura hip hop. No ano seguinte já embocou para a pintura e nunca mais parou, alternando muros e telas. “Desde então já passei por muitos estilos. No início, retratava muito a natureza. Foi só em 2006 que cheguei a uma identidade visual sólida.”
A virada de chave ocorreu quando Glauber decidiu “olhar para dentro”. A ficção científica e o hip hop se encontraram com a arte popular e a cultura pernambucana. Glauber estudou xilogravura e iluminogravura, um tipo de poesia visual que une texto e imagem, invenção de Suassuna. Também bebeu na fonte do Manguebeat, misturando o cibernético com o romano.
Em 2009 decidiu aprender a modelar o barro e passou um tempo frequentando o ateliê de cerâmica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mas só em 2015 abraçou mesmo o novo suporte, transformando um quarto da casa em ateliê.
Glauber diz que não tem “um filho preferido”, a cerâmica ou a pintura. “Apesar de muita gente me conhecer como ceramista, tudo começou no papel e na tela.” Foi no barro, entretanto, que Arbos, personagem-bicho criado pelo artista, fez mais sucesso. “Ele não é uma coisa específica: vai se misturando e se renovando. Tem ainda um pouco da ficção científica e mistura vários personagens do folclore, como o Bumba-Meu-Boi e o Mateus do Maracatu; também é meio romano, meio xilogravura, meio cibernético”.
É uma mistura mesmo particular! E fascinante.