Artesã, joalheira e turismóloga são alguns dos “títulos” que Gabriela Lisboa carrega. Desde a adolescência, a baiana fazia biojoias com sementes, penas, e continhas do mar que catava nas praias de Ilhéus, onde costumava passar suas férias escolares. Para aprimorar o talento nato, resolveu estudar joalheria no tradicional Centro Gemológico da Bahia. Inquieta, também se formou em Turismo, e sabendo que manualidades eram seu dom, virou consultora do Sebrae e rodou a Bahia capacitando artesãos, colocando de lado por um período seu trabalho autoral.

Mas tudo acontece em seu tempo e a época como consultora serviu para Gabriela pesquisar técnicas, materiais típicos da Bahia e se inspirar ainda mais com tantas referências. Na Costa do Dendê, no baixo sul do estado, descobriu e encantou-se com o potencial da palmeira da piaçava. De sua fibra, mais do que a tradicional vassoura, se faz cestarias belíssimas, de fios finos, elegantes e muito resistentes. Do beneficiamento de seu coco, surge uma matéria-prima muito nobre, que ora lembra madeira, ora mármore.

Foi esse material que despertou em Gabriela sua verdadeira paixão por biojoias. Sua vivência no baixo sul do estado permitiu que conhecesse comunidades tradicionais quilombolas da região, extrativistas da piaçava, e essa troca a apaixonou ainda mais por esta matéria-prima tão nobre e nativa  da Bahia. Gabriela começou a mesclar coco de piaçava a ouro e prata para criar escapulários, anéis, brincos, e tudo que sua criatividade permitisse.

Os escapulários adornados com símbolos das religiões de matriz africana e do catolicismo, inspirados no sincretismo que é a cara da Bahia, logo viraram o carro-chefe da marca Gabriela Lisboa. A coleção, batizada de Sagrados, surgiu de um sonho: “Digo que não criei, ganhei essa coleção de presente”, conta a joalheira. “Mas lógico que o sonho que inspirou Sagrados tem muito a ver com o fato de ter nascido em Salvador, cidade que é meu berço, minha maior fonte de inspiração, meu amor”.

O trabalho de beneficiamento da casca do coco da piaçava é complexo, o que torna as joias de Gabriela Lisboa ainda mais especiais. O processo é finalizado à mão, na joalheria artesanal, com os símbolos de fé que adornam os minúsculos pingentes esculpidos em ouro ou prata. Além de escapulários, esses pingentes são transformados em anéis ou pulseiras de mão, tudo ao gosto do cliente – Gabriela tem uma produção pequena de pronta-entrega e prefere trabalhar sob encomenda, para atender aos desejos de quem vai carregar suas joias: do símbolo de proteção escolhido ao tamanho da corrente. “Já fiz até japamala com orixás”, conta.

Não poderia haver sincretismo maior!

As biojoias podem ser adquiridas diretamente com a artista pelo seu Instagram, @gabrielalisboaajoias.