Pernambucano de Olinda, Francisco Mesquita ensinava História no Ensino Médio em Garanhuns até a pandemia e, se alguém dissesse que se tornaria artista plástico dos mais celebrados na nova geração, ele daria uma boa risada. “Não era uma criança que desenhava. Gostava de jogar bola, ir à praia”, conta.

Formado em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), por sete anos deu aulas em Garanhuns, no agreste pernambucano. Em 2020, decidiu voltar à comunidade do Alto do Monte, em Olinda, onde havia crescido, mas os sonhos de uma nova fase de vida foram atropelados.

“Não queria mais dar aula, então consegui um trabalho num coworking. Fui demitido por conta da pandemia e não tive direito a nenhum auxílio porque não tinha tempo suficiente de carteira assinada”, lembra.

A relação com a arte veio nessa época. “Comecei a fazer colagem a partir de recortes de revistas, como terapia para a depressão.” A vontade de pintar veio na sequência, mas faltava dinheiro para investir em telas. Foi aí que veio a ideia de pintar no papelão. O que era necessidade virou diferencial. “O papelão treinou meu olhar para os materiais que estavam ao redor.”

Ainda que a pintura em papelão seja sua assinatura, a gente também encontra nas obras de Francisco pedaços de plástico, por exemplo, e até lacre de latinha de bebida.

As cenas pintadas são fruto de observações da janela de casa: meninos dançando e soltando pipa; mulheres fazendo a unha e se bronzeando.

Na série “Retratos”, de 2022, pessoas da comunidade posavam para as telas – ele pretende retomar a ideia em breve. “Retratos é um projeto baseado no afeto em relação às pessoas da rua onde moro, que se destacam no comércio e na cultura da região. Sou de Alto do Monte e não pretendo sair daqui.”

No fim do ano passado, Francisco “trocou” o papelão pelo tecido e assinou três estampas para a marca olindense Rafa Q Faz. A collab “Bença, Mãe” nasceu inspirada nas mulheres da vida do artista, sua mãe e suas irmãs, e trazia ilustração em homenagem às benzedeiras, Iemanjá e Imaculada Conceição. Em junho, participou da ART*PE e hoje suas obras podem ser encontradas na loja Cobogó Collab e no SELO Coletivo.