Feminina e ancestral
Feminina e ancestral
O encontro com as obras de Nádia Taquary, 50 anos, é um convite ao autoconhecimento. A verdade é que é exatamente isso o que a arte representa na vida da soteropolitana: a liberdade de ser quem é. Até se tornar tardiamente artista plástica, aos 40 anos, ela precisou superar o tradicionalismo da família, sempre contrária aos seus impulsos artísticos – Nádia é formada em Letras, e fez pós-graduação em Educacão, Estética, Semiótica e Cultura pela UFBA, tudo isso antes de se descobrir artista.
Sua linha de trabalho que conhecemos hoje surgiu do maior tabu vivido em sua infância, que é a negritude. Filha de pai negro e mãe branca, Nádia não “sabia sua cor” por negligência dos pais sobre o assunto e porque, inclusive, a informação não consta em sua certidão de nascimento. O processo de descobrir-se negra foi extremamente importante em sua trajetória, e impactou profundamente sua criação. O ponto alto de sua arte é poder falar que é negra. Nádia passou a estudar sobre as suas ancestralidades, e o resultado aparece em esculturas e adornos que enaltecem a religiosidade afro-baiana.
A pesquisa visual que costuma realizar para confeccionar suas obras se baseia na joalheria afro-brasileira e nos adornos corporais africanos. Mas o mergulho em toda a cultura ancestral brasileira é mais profundo e inclui de gastronomia a música.
Nome em ascensão na arte afro-brasileira, Nádia já expôs nas mais relevantes instituições do país, como o MAR (Museu de Arte do Rio), MASP, Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte da Bahia, e está em coleções como a do já citado MAR e a do Pérez Art Museum, de Miami. Sua próxima exposição será na Galeria Paulo Darzé, que a representa, em Salvador, em dezembro próximo.