Mobiliário inusitado
Mobiliário inusitado
Fios de poste de energia, correia de couro de máquina de costura, madeira resgatada do fundo do Rio Capibaribe. Esses são alguns dos materiais utilizados por Caio Lobo, que gosta de se definir como “artista de móveis”. Apesar de não ter formação na área, o pernambucano vem se destacando na cena do design graças a um olhar lúdico e original para o universo do mobiliário.
Caio nasceu em Garanhuns, cidade a 230 km de Recife adorada pelo frio no inverno. Seus pais tinham uma loja de móveis famosa pela curadoria, mas sua veia artística ainda não havia se manifestado. Estudou Administração em Recife e, concluída a faculdade, voltou para a cidade para cuidar dos negócios da família.
Virou o comprador oficial da loja e, nas visitas a feiras, se apaixonou por móveis autorais e por designers como Paulo Biacchi e Rodrigo Calixto.
Acreditando que “errando é que se aprende”, Caio começou a criar intuitivamente. “Gosto de ser chamado de artista de móveis porque Design é uma profissão, e não tenho o conhecimento teórico. Meu mobiliário é livre, experimental, e nem sempre acerto de cara. Não tenho o pensamento racional e comercial de um designer de formação.”
Hoje em seu portfólio encontramos peças escultórias e criativas que nascem de materiais não exatamente valorizados no mundo do design. Um exemplo? “Tramela”, porta-discos batizado com o nome de um passo de frevo que remete ao desenho dos pés da peça.
Já “Vazio”, poltrona de 2012 que faz sucesso até hoje, é feita de madeira e ferro, com design sinuoso e marcante – de lado é vazada, revelando o que está atrás. Destaque também para “Meu Chapa”, uma linha mais comercial, com móveis feitos de madeira e chapas de compensado, pintados em cores diferentes para dar ar decorativo.
“Artista tem que ter identidade, e meu móvel é um pedaço de mim.” Recife voltou a ser a casa de Caio e onde fica seu ateliê. O espaço funciona não só para a sua criação autoral, mas está aberto para quem quer aprender. Desde outubro, Caio dá aulas e auxilia os alunos na construção de protótipos e de móveis autorais. “A ideia é que o aluno projete o que ele quiser, execute e leve para casa.”