Rosto brasileiro
Rosto brasileiro
Qual é a cara do brasileiro? Para o baiano Bernardo Conceição, é uma mistura de Jesus, Saci e Exu. Também escritor e performer, Bernardo faz parte da nova safra de artistas visuais brasileiros cujo trabalho tem como eixo reforçar o protagonismo negro. Em suas telas brilham rostos pretos cercados por elementos que também falam sobre identidade, como penteados e acessórios.
Nascido em 1999 em Itinga, na periferia de Salvador, Conceição começou a pintar já aos 6 anos. “Nunca tive dúvida sobre o que queria fazer no mundo. A arte para mim é como água: a gente liga a torneira e ela sai.”
Filho de mãe diarista e pai marceneiro, Bernardo pôde se dedicar às artes por ser o caçula de 4 irmãos e não precisar ajudar no complemento da renda em casa.
Começou pintando aquarelas aos 6 anos, até pelo preço dos materiais. Depois de ingressar no bacharel interdisciplinar em artes, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), entendeu que precisaria passar para as telas se quisesse valorizar sua produção.
Apaixonou-se pelo Renascimento – e vem daí a mão levantada de seus personagens, hoje marca registrada. “Fui Testemunha de Jeová até os 17 anos, sempre estive atrás da imagem de Deus. Os artistas medievais se consideravam pessoas próximas a Deus, por isso se retratavam com as mãos para cima. Decidi pintar figuras negras nessa pose, com a missão de beatificá-las”.
Desde 2019, Bernardo vem desenvolvendo um “rosto assinatura” com o objetivo de chegar a um rosto brasileiro, com fenótipos negros. “Esse rosto também fala sobre nosso sincretismo e vem com uma mistura de Jesus, Saci e Exu.”
Além das telas, Bernardo leva sua assinatura para a Sempre Vivo, marca de roupas que nasceu como um jeito de se manter próximo à própria comunidade. “Entendi que eu não seria o consumidor da minha arte – e a roupa é mais acessível. As peças trazem pinturas para que as pessoas sintam como se estivessem comprando uma tela”, resume.
Em janeiro deste ano, Bernardo assinou uma coleção para a marca infantil Fábula, o que lhe permitiu furar a bolha e levar seu trabalho a muito mais gente. Para o começo de 2025, prepara sua primeira exposição, no Museu da Cidade, no Largo do Pelourinho. Não temos dúvidas, vai ser bafo!