A artista plástica cearense Beatrice Arraes usa paisagens de seu estado como inspiração. Pensou em cores fortes e vivas, praia e céu iluminado? Esqueça. Delicadas, bucólicas e reflexivas, as telas de Bia vêm em tons sóbrios e fechados, retrata um Ceará real, mas muito distante dos cartões-postais.

Nascida em Fortaleza em 1998, Beatrice é de uma geração que não dissocia o ativismo ambiental da prática cotidiana. Por isso, sua investigação artística não revela paisagens intocadas, e sim com a influência do homem. Na adolescência, militou em ONGs ambientais, mas o incômodo aumentou durante a graduação em Arquitetura.

“Fiz 3 anos de curso. Gostava dos temas estudados, mas não queria ser de fato arquiteta e colocar mais prédios no mundo”, conta. Como cursava Design em paralelo, estreitou laços com a pintura, “hobby” que teve contato pela primeira vez aos 13 anos, em um curso livre de tinta a óleo.

Foi aí que veio a oportunidade de um intercâmbio na área de Belas Artes, em Salamanca, na Espanha, curso que sempre foi seu sonho, mas que não existia no Ceará.

O contato com os pintores italianos metafísicos foi a virada de chave para Beatrice criar seu próprio estilo. São nomes como Carlos Carrà, que pinta telas enigmáticas em que o mistério, o sonho, os espaços vazios e as sombras se justapõem a objetos do cotidiano que parecem que não deveriam estar ali.

De volta ao Brasil, Beatrice juntou essas referências ao nosso modernismo, depois de uma temporada imersiva no Atelier Oruniyá, no Rio de Janeiro. Na capital carioca, também passou pela tradicional Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Hoje, mora em São Paulo, mas o Ceará segue junto.

“São Paulo mistura gente de todo o Brasil, a cultura fica muito dissipada. O Ceará é de onde vem todas as minhas referências imagéticas, paisagens que me são familiares.”

Sua Fortaleza é noturna e silenciosa. A impressão é que as cenas retratam momentos nos quais os moradores estão dormindo e na praça só restam os bancos e os postes acesos. Outra marca registrada é a paleta de cores. Beatrice possui uma cromaticidade sóbria e fluida, escolha consciente. “Até meu tom de voz é baixo.”

Fotos: Divulgação/Felipe Bernt/Ana Pigosso