O que a Prada, a Misci, as Meninas Super Poderosas, a mesa amarela da Skol e a Turma da Mônica têm em comum? Todas elas fazem parte do imaginário criativo do artista Victor Henrique Fidelis, que resgata para a arte contemporânea os símbolos presentes na vida de pessoas pretas através das suas memórias afetivas familiares, pautando o protagonismo racial de uma maneira humana, sem necessariamente serem heróis ou vítimas, apenas pessoas.

Nascido em São Paulo, aos quatro anos Victor mudou-se para Salvador, onde criou suas lembranças mais fortes da infância, por conta do pai, que trabalhava com marcas de sportswear em expansão. Aos 10 anos, começou a se interessar por arte ao mergulhar nos livros sobre o Movimento Modernista da mãe e da tia, que se graduaram pela Faculdade de Belas Artes. Isso já de volta a São Paulo, após a família ter passado por problemas financeiros na capital soteropolitana, saindo do bairro Chame-Chame, região de classe média alta da cidade e desembarcando na periferia paulista.

Henrique se formou em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP), mas nunca atuou na área. Durante a pandemia, se descobriu artista. Suas referências e traços vêm muito do Modernismo Brasileiro pelo qual se apaixonou na infância, e também do graffite, de pintores negros americanos e do expressionismo alemão.

“Durante o isolamento, comecei a pintar em tinta plástica com influência da minha amiga Mariana Valadão, que trabalha com artes e, em 2021, criei minha primeira obra, a Blondor. Todo meu trabalho é muito familiar porque usa como base as minhas experiências e de quem me cerca. Cresci com muitas histórias e trocas.”

Fotografias de épocas longe das redes sociais tornam-se telas que retratam a estética popular de uma maneira nostálgica. O protagonismo negro aparece latente, reflexo do espaço seguro para onde voltava sempre que sentia preconceito e segregação nos meios brancos e elitistas que frequentava.

O uso de logos nas telas tampouco é gratuito. “São signos da nossa cultura industrial capitalista e ajudam a criar pistas do momento geográfico e temporal que estamos vivendo. É a arte contemporânea discutindo contemporaneidade.”

O olhar de Victor Henrique é, acima de tudo, subversivo para criar uma imagem histórica de pessoas negras colocando-as em lugares de destaque, prestígio e ascensão.

Hoje representado pela Galeria Asfalto (RJ), Victor já participou da SP-Arte, da 154 Art Fair de Marrocos e, em outubro, estará na edição do evento em Londres. Até 15 de novembro, suas telas estão também na exposição “Brasil Futuro, as Formas da Democracia”, no Centro Cultural Solar Ferrão, em Salvador.