Retratos da história
Retratos da história
É impossível não associar o trabalho de Silvana Mendes a uma música do rapper Djonga. Em “Até Sua Alma”, o mineiro solta: “dê a César o que é de César, mas devolve o que é nosso” – e é exatamente isso que a artista maranhense prega em suas “Afetocolagens”, obras nas quais figuras negras desconhecidas ganham protagonismo num cenário que também fala sobre a herança africana na cultura brasileira.
Nascida e criada em São Luís, Silvana Mendes é filha de professoras – usa o plural porque foi criada pela mãe e pela tia. Queria estudar Psicologia, mas terminou entrando para Artes Visuais na Federal do Maranhão – lá começou a resgatar a própria trajetória para encontrar seu lugar nas artes.
“O mundo das imagens sempre me interessou. Era obcecada por Castelo Rá-Tim-Bum e filmes da Sessão da Tarde. Na adolescência, troquei a tela da TV pela dos computadores das lan houses”, conta a artista de 33 anos. Com câmeras digitais que pegava emprestada dos amigos, passou a usar as redes sociais para postar fotos.
Foi na graduação que conheceu a mobigrafia, movimento cultural que promove a arte fotográfica feita com dispositivos móveis como celulares e tablets. Era o que cabia no seu bolso. “Foi aí que comecei a me interessar pelo lambe. Fazia as fotos, manipulava no computador e tirava as xérox no próprio Centro Acadêmico da faculdade.”
Em 2018 iniciou a pesquisa que mudou sua carreira. “Comecei com a ideia de transformar uma mensagem original em uma nova. Me aprofundei no trabalho do berlinense Alberto Henschel (1827-1882), que rodou o Brasil fotografando brancos e negros escravizados.”
Três pontos chamaram sua atenção: a similaridade dos negros retratados com familiares e amigos; o fato de Alberto não colocava o nome das pessoas negras retratadas, no máximo o estado; as fotos dos brancos virem com nome, profissão e naturalidade. “Por que não interessava saber quem eram as pessoas racializadas?”. Decidiu, então, ressignificar esses personagens.
As “Afetocolagens” nascem para imaginar uma nova história do Brasil. “Meu trabalho só faz sentido se tem troca educacional e didático. Não quero ser só uma artista que pendura obras em galerias.” Até agora, vem fazendo isso brilhantemente!