Já pensou no que herdamos do movimento barroco além das igrejas rococós com muito ouro e altares rebuscados? Isabela Seifarth, sim. Para a artista baiana, o barroco se reflete em nosso cotidiano pelo horror que temos ao vazio, pela necessidade de preencher – e isso é ainda mais forte na Bahia, na cultura e no comportamento das pessoas.

Apesar de não se prender a temas, pesquisas das paisagens cotidianas, num cruzamento do urbano com o rural, guiam seu trabalho. Nas telas, surgem o canto de uma casa, um boteco, uma barbearia, com seus objetos e personagens.

A sensação é que estamos em um set de filmagem, onde atores, cenários e figurinos são pensados para nos teletransportar para o Recôncavo Baiano. “A Bahia é isto: muito densa e preenchida, tem barulho, gente falando, carro buzinando. Nosso cotidiano tem muitas camadas”, analisa Isabela.

Formada em Arquitetura, a artista de 35 anos está finalizando o mestrado em Artes na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Chegou a trabalhar como arquiteta por dois anos, mas já pintando. “Não dava para ser boa nas duas coisas ao mesmo tempo. Escolhi a arte, que era mais importante na minha vida.”

Apesar de nascida e criada em Salvador, Isabela viveu entre a capital e São Félix, cidade de sua família no Recôncavo, onde passava férias e feriados. “Por causa do Centro Cultural e da Bienal, lá se fala em arte o tempo todo. Acho que vem daí meu lado artista.”

Seu pai era economista, também sonhava ser artista e foi grande apoiador. “Ele comprava os materiais, me levava a exposições, me incentivava a desenhar os espaços. Mesmo tendo carro, fazia a gente andar a pé por Salvador para conhecer a cidade de verdade.”

A investida deu certo. Isabela integra o acervo do MAC Bahia, é representada pela prestigiada Paulo Darzé Galeria e já participou de mais de 40 exposições.

Em 2023, assinou uma estampa para a Santa Resistência, marca cuja diretora criativa, Monica Sampaio, também vem de São Félix. “Retratei Maria Felipa e Maria Quitéria, as heroínas do 2 de Julho, Independência da Bahia e do Brasil, que começou pelo Recôncavo, ao lado de Catarina Paraguaçu, esposa do grande Caramuru, e outra heroína local.”