Além da tinta
Além da tinta
Caramujos de cerâmica que pulam das telas. Bordados que “furam” o vaso pintado com tamanho realismo que você quase acha que se trata de uma fotografia. Esses são alguns dos motivos que explicam porque o cearense Arrudas foi um dos destaques da Rotas Brasileiras, programação da SP Arte, que aconteceu mês passado em São Paulo, evento que vem se consagrando por revelar novos talentos e por trazer a arte popular para dentro da cena de arte contemporânea no Brasil.
Jovem artista de apenas 25 anos, Arrudas nasceu e cresceu em Fortaleza e se formou em Publicidade. Começou a pintar porque a comunicação verbal sempre foi um desafio devido ao diagnóstico de transtorno do espectro autista.
Em suas telas, imagens que falam sobre as relações consigo mesmo, com a família, com a religião e com o tempo. O talento para o fazer manual vem de berço: sua mãe é doceira e a avó, costureira. “Desde criança fui envolto na energia do feminino e da criação. Como artista, comecei na aquarela, mas sempre tive vontade de aprender tudo que podia, por isso passei pelo desenho, pela pintura e até pela costura”.
Suas telas hiper-realistas ganham dimensão 3D graças à aplicação de bordados e, recentemente, cerâmicas, técnica que é seu novo xodó. Mas Arrudas sempre abusou de texturas nas telas, criando relevos com as próprias tintas.
Arrudas acredita que seu motor na arte é a vontade de compensar um déficit intelectual com a potência manual. “Apesar do diagnóstico do autismo ser recente, esclareceu muita coisa. Venho tecendo essa linguagem de comunicação com o externo através da pintura.”
As relações familiares são outro fator que o influenciaram. “Minha família sempre foi introvertida, fechada em si própria. Desde pequeno vivia no meu mundo.” Foi aí que os pincéis encontraram a psicanálise, e as telas passaram a representar os “não-ditos”.
Entre 2014 e 2018, Arrudas ainda pintava com um ideal de perfeição que não conseguia alcançar, por isso queimava os trabalhos. Depois de muita terapia entendeu que o que importava era o ato de pintar e não necessariamente o resultado final.
Arrudas é representado pela Galeria Leonardo Leal, uma das mais importantes de Fortaleza, e também faz performances e vídeos no coletivo Banita Plataforma.