O resgate da cultura popular traduzido em obras de estética urbana e contemporânea tem sido a força motriz da nova safra de artistas visuais nordestinos. Um exemplo disso é a pernambucana Carolina Noêmia. Nascida e criada na Mustardinha, bairro da Zona Oeste de Recife, a muralista de 33 anos mistura em suas telas e ilustrações referências à xilogravura, ao Maracatu Rural e outras manifestações regionais.

O resultado? Figuras que carregam uma memória ancestral, modernizadas pelo toque da street art, sempre em cores vibrantes e saturadas. É como se Jean-Michel Basquiat tivesse passado o Carnaval em Olinda e viajado pela Zona da Mata para conhecer os personagens do Maracatu de Baque Solto.

Mas o artista americano não é referência para Carol, que desenha desde que se entende por gente e já desafiou muitas barreiras para poder, finalmente, viver de arte. Filha única de mãe solo, a pernambucana cresceu vendo a mãe se desdobrar no emprego de telefonista com outros bicos para poder dar conforto a ela e a avó. A mãe também fazia artesanatos para trazer uma renda extra para a casa. “Hoje ela fica muito feliz de me ver vivendo de arte e ainda podendo ajudá-la”, conta.

Carol é designer de formação e trabalhou na área por anos, flertando também com a Publicidade. Inclusive, acredita que foi por causa desse know-how que conseguiu transformar o Instagram na principal vitrine, já que é artista independente, sem representação de galeria.

A virada de designer para artista aconteceu depois de um acidente. Em 2019, escorregou dançando frevo e precisou colocar uma placa de sete pinos no pé. Durante o tempo “de molho”, voltou a desenhar e pintar, já que ficou afastada por seis meses do trabalho em uma gráfica no centro do Recife. De lá pra cá, não largou mais os pincéis.

Um dos personagens mais frequentes do trabalho da Carol é a Catita, figura que abre a celebração do Maracatu Rural e representa uma mulher pobre, que carrega um jereré – rede para pesca de mariscos – onde guarda o dinheiro que arrecada. “Demorei mais de um ano para chegar até o desenho e expressão final da Catita, graças ao ensinamento e as vivências com mestres do Maracatu que tenho muito respeito.”