Pássaros com um olho só, homens com mãos em forma de garra de caranguejo e pernas de sereia, calangos com asas e peixes cheios de poás são alguns dos personagens fantásticos que saem da cabeça do pernambucano André Menezes, 32 anos, um brilhante autodidata que inventou uma técnica própria de transformar lixo em arte.

Filho de um mestre de obras e uma dona de casa, André desde cedo mostrou talento para inventar seus brinquedos a partir de sucatas. “Fui criado dentro de casa, aliás, moro até hoje no mesmo apartamento, e minha mãe conta que desde muito pequeno usava caixas de creme dental e leite para fazer carrinhos e prédios. Ninguém me ensinou, nem me incentivou, era uma coisa minha”, conta.

Na adolescência, aperfeiçoou esse talento e passou a usar as mesmas sucatas para fazer enfeites de Natal. “Nem sabia o que era sustentabilidade, mas tinha essa paixão por transformar o que seria lixo em coisas bonitas.”

Mesmo sem ter formação em Artes Plásticas – André parou de estudar no fim do ensino médio –, criou um universo imagético que lembra muito o Movimento Armorial de Ariana Suassuna. “Meus seres muitas vezes vêm unidos entre si e misturam elementos da natureza e até máquinas. Eu não fazia ideia do que era o Armorial, mas depois me dei conta que até as cores que uso dialogam com o movimento.”

Batizada de reclipachê, a técnica que inventou usa resíduos sólidos como base para a cobertura de papel, fundindo reciclagem, papietagem e papel machê. Papelão, isopor, jornal, garrafas pet e de vidro, madeira, papel, tinta e cola são os ingredientes dessa sua “receita maluca”

André chamou atenção a primeira vez em 2015, quando uma obra sua foi selecionada para ser exibida na Galeria de Reciclados da Fenearte. Hoje tem espaço próprio, que é um dos mais visitados e disputados da feira.

Suas peças estão nas principais lojas de arte popular do País e já saíram até na capa da Casa Vogue. Aos 32 anos, André foi um dos 15 artesãos ou coletivos vindos de 8 Estados, selecionados para participar da segunda edição da Arte dos Mestres, feira-exposição organizada pela Artesol, que aconteceu de 27 de agosto a 1º de setembro, em paralelo à SP-Arte Rotas Brasileiras.