Em tempos e ambientes conservadores, a moda tem o poder de contestar e emancipar. E foi com essa premissa que Adailton Junior criou a marca de moda Areia, quatro anos atrás. Soteropolitano nascido e criado no Arraial do Retiro, bairro pobre e dos mais violentos da cidade, Adailton vem de uma família de sete irmãos e teve uma criação rígida e tradicional.

Foi dando vida a sua marca que Adailton conseguiu se emancipar e contestar preconceitos do seu entorno. Era 2020 e ele resolveu assumir sua veia criativa e deixar fluir os sonhos de uma criança queer reprimida através de roupas ornamentais, fluidas, volumosas, bordadas e com muito axé.

Os tecidos naturais como linho, seda e algodão são páginas em branco para contar uma história de resistência. Por isso os looks oversized desenhados pela Areia não têm gênero.

“Tive uma criação na qual fui muito reprimido. Quando saí da escola, tentei cursar Veterinária, que seria uma ‘profissão de homem’. Mas não me via ali, então resolvi mudar para Gastronomia para, de alguma forma, estar perto da criação. Mas era a moda que sempre me encheu os olhos. Desde criança eu já sonhava com roupas e até brincava com vestidos escondidos. Minha mãe cortou laços quando me assumi gay aos 17 anos”, conta.

As roupas da Areia ganham detalhes em palha de piaçava da Divino Ammor não por acaso: Cristiane Carlos, diretora criativa da marca que também é baiana, é uma mãe para Adailton. “Depois que minha mãe cortou os laços comigo, a Cris me assumiu. Ela era amiga da família e a única pessoa que me aceitava como criança gay.”

Autodidata, Adailton comprou uma máquina de costura e começou a assistir aulas de Youtube. A nova coleção, batizada de Mimosa, será dividida em 3 drops, já que a marca é slow em todos os processos. Com 7 peças, o que se destaca no primeiro lançamento é a alfaiataria desabada, enriquecidas com detalhes de latão – em botões, broches e medalhas –, fruto da colaboração com as designers Íris Magalhães e Rachel Ravazzano.

No início de 2025, a segunda parte de Mimosa será lançada com peças em seda. Na sequência, vem a parte de algodão, mergulhando na infinidade de possibilidades da malharia. Estamos ansiosos para acompanhar o que vem por aí!