Restos de tecido que viram arte. Um acaso que vai parar na Art-Rio. Esse é um bom resumo dos últimos meses na vida da artista plástica pernambucana Anna Guerra.

Nascida em Recife e radicada em São Paulo, Anna atua como artista visual há mais de 20 anos. Com ênfase na pintura e em experimentações têxteis, a pernambucana transita entre o erudito e o popular, refletindo criticamente sobre tradições e festejos regionais.

A chita é um de seus principais objetos de estudo e aparece retalhada em quadros cheios de relevos e reentrâncias, misturada à tinta acrílica, cera de abelha e tinta óleo.

A mesa de trabalho em seu ateliê é uma bagunça criativa de tintas e retalhos, e foi num momento de “descanso” que Anna criou pela primeira vez as bolas que no fim de setembro compuseram sua instalação na Art-Rio, dentro da Galeria Tato.

“Fui enrolando os retalhos que tinha e, quando a bola acidentalmente caiu no chão, me veio a ideia de bordá-la e trabalhar em série para criar uma instalação”, conta. Anna tinha então dois desafios: encontrar mais resíduos têxteis e ajudantes para criar as bolas.

O primeiro problema foi resolvido com a parceria de Juliana Gevaerd, estilista que têm uma fábrica de tricô. O segundo, com a colaboração de um grupo de mulheres da comunidade de Barra de São Miguel, na Grande São Paulo. “Faço a coleta têxtil na fábrica, levo para a comunidade e recolho a cada 15 dias. No ateliê, faço o acabamento em bordado.”

Batizadas de “Bola de Trapo”, foram exibidas em público pela primeira vez em agosto, na Galeria Tato, em São Paulo, numa exposição dedicada exclusivamente a artistas têxteis que estavam no stand da galeria na Art-Rio.

Mas não é só. Anna também tem feito instalações mais bojudas para adornar paredes. Uma delas esteve na mostra coletiva Além Têxtil, no Galpão 556, na Barra Funda (São Paulo), que reuniu obras de 11 artistas contemporâneos cujas práticas investigativas circunvizinham o ambiente têxtil. Batizada de “Costurando Sobre o Tempo”, a obra de Anna reúne chita, fitas e resíduos têxteis bordados sobre um bambolê, com 90 cm de diâmetro.

É arte regenerativa porque trabalha com descarte e anda enaltece a cultura popular!