Fio da memória
Fio da memória
Memórias bordadas em linho e algodão. Essa é a melhor maneira de definir o trabalho primoroso da alagoana Alina Amaral. Slow, cria peças únicas ou em coleções-cápsula, misturando elementos da cultura popular a formas contemporâneas. Desconstruir o bordado tradicional é a intenção, oferecendo a ele assimetria, volumes disformes, novos materiais e até tintas.
Nascida em Santana de Ipanema, no alto sertão de Alagoas, Alina costumava passar as férias em Pão de Açúcar. A cidade é conhecida pelo bordado Boa-Noite, que encantava a menina tanto quanto as ladainhas (espécie de oração cantada) da avó, que fazia parte da Irmandade de Maria.
As tias tinham um armarinho, e Alina passou a infância brincando com linhas, aprendeu a fazer crochê, tricô e, claro, bordados. Aos 14 anos veio estudar em Maceió e fez faculdade de Jornalismo, mas já de olho na moda. “Ainda que quase não houvesse livros sobre o assunto, minha tese foi sobre jornalismo de moda. Nessa época fiquei muito amiga da Vera Arruda, pioneira da moda alagoana.”
Alina produzia desfiles, casou, teve 2 filhos, foi morar em Salvador e logo estava criando figurinos para Daniela Mercury e Carlinhos Brown. Voltou a Maceió, e ganhou uma clientela que vivia pedindo que fizesse vestidos para grandes ocasiões inspirados nos figurinos que criara para os músicos baianos. Dali para fazer vestidos de noiva foi um pulo, e seus bordados logo se destacaram.
Mas ela não estava feliz fazendo vestidos que seriam usados apenas uma vez, queria que seus bordados fizessem parte da vida das pessoas. Antes de montar sua marca, sabia que precisava formar um bom time de bordadeiras, e assim surgiu o Aarteando, projeto que faz parte do Cren-Alagoas (Centro de Recuperação e Educação Nutricional) e que reúne mulheres em situação de vulnerabilidade econômica da periferia de Maceió.
Sem pressa, Alina levou sete anos treinado as 20 bordadeiras que hoje fazem parte do seu time fixo. O Aarteando já trabalhou para a Farm e teve peças expostas na França com design de Marcelo Rosenbaum. Em 2019, sentiu que estava pronta e lançou a marca homônima.