Em tempos sombrios, que questionam a diversidade de gênero e colocam em risco importantes conquistas na área de direitos humanos e ameaçam a liberdade de escolha, iniciativas criativas que buscam desmistificar os limites de gênero e identidade são atos de resistência. A pernambucana Agender é um exemplo disso.

Criada em 2018 pelo designer Anderson George, paraibano de Patos radicado no Recife, a marca traz referências regionais de forma universal, valorizando manualidades e uma moda que foge das regras tradicionais.

“Tem uma frase famosa da mítica editora de moda Diana Vreeland que diz: ‘o olhar tem que viajar’. E é exatamente isso que me inspira: tudo o que meus olhos alcançam. Estou sempre atento ao que acontece ao meu redor, e as culturas de Pernambuco e Paraíba, onde divido meu tempo, são minha principal fonte de criação, seja nas temáticas, no uso de trabalhos manuais, nas estampas, na cartela de cores e na silhueta”, explica Anderson.

Ele também revela ao NORDESTESSE que, a partir de 2025, a marca passará a se chamar AGÊ.

Nascido no sertão paraibano, George percebeu desde pequeno a influência da moda em sua vida ao observar sua avó, uma costureira talentosa que atendia mulheres de alto poder aquisitivo. Entre trabalhos manuais, desfiles e revistas de moda, o menino de 8 anos começou a sonhar.

Na última edição da Casa de Criadores, a Agender fez seu debut com a coleção “Uma Corte Celestial”, inspirada na indumentária do Maracatu de Nazaré da Mata, onde Ander encontrou uma verdadeira “alta-costura nordestina”.

“A moda nordestina é frequentemente vista como rústica ou folclórica, mas quero mostrar o contrário. Temos técnicas sofisticadas, como bordados com lantejoulas e miçangas, feitos à mão por meses. Na França, isso já teria sido patenteado!”, afirma.

Explorando manualidades, a Agender desconstrói redes de dormir, transformando-as em vestuário. Essa ideia foi premiada em um concurso do Governo da Paraíba e destacada no Movimento Hotspot, evento ligado ao São Paulo Fashion Week.